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História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

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12<br />

Primeira parte - As origens gregus do pensumento ocidental<br />

Com isso, fica esclareci<strong>da</strong> a diferenqa<br />

entre filosofia, arte e religiio. A grande arte<br />

e as grandes religi6es tambim visam a cap-<br />

tar o sentido <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de do real, mas elas<br />

o fazem, respectivamente, uma, com o mito<br />

e a fantasia, outra, com a crenGa e a fe', ao<br />

passo que a filosofia procura a explicaqio<br />

<strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de do real precisamente em nivel<br />

de logos.<br />

8 escopo du filosofiu<br />

0 escopo ou fim <strong>da</strong> filosofia esti no<br />

puro desejo de conhecer e contemplar a ver-<br />

dude. Em suma, a filosofia grega C desinte-<br />

ressado amor pela ver<strong>da</strong>de.<br />

Conforme escreve Aristoteles, os ho-<br />

mens, ao filosofar, "buscaram o conhecer a<br />

fim de saber e nio para conseguir alguma<br />

utili<strong>da</strong>de pritica". Com efeito, a filosofia<br />

nasceu apenas depois que os homens resol-<br />

veram os problemas fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> sub-<br />

sisthcia e se libertaram <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

materiais mais urgentes.<br />

E Aristoteles conclui: "Portanto, C evi-<br />

dente que nos nio buscamos a filosofia por<br />

nenhuma vantagem a ela estranha. Ao con-<br />

trario, C evidente que, como consideramos<br />

homem livre aquele que C fim para si mes-<br />

mo, sem estar submetido a outros, <strong>da</strong> mes-<br />

ma forma, entre to<strong>da</strong>s as outras cihcias, s6<br />

a esta consideramos livre, pois so ela C fim a<br />

si me2ma."<br />

E fim a si mesma porque tem por obje-<br />

tivo a ver<strong>da</strong>de, procura<strong>da</strong>, contempla<strong>da</strong> e<br />

desfruta<strong>da</strong> como tal.<br />

Compreendemos, portanto, a afirma-<br />

qiio de Aristoteles: "To<strong>da</strong>s as outras ci@n-<br />

cias seriio mais necesshrias do que esta, mas<br />

nenhuma sera superior." Uma afirmagio que<br />

todo o helenismo tornou propria.<br />

&nclus6es<br />

sobre o conceito grego de filosofia<br />

Imp6e-se aqui uma reflexio. A "con-<br />

templaqio", peculiar a filosofia grega, nio<br />

C um otium vazio. Embora nio se submeta<br />

a objetivos utilitaristas, ela possui releviin-<br />

cia moral e tambCm politica de primeira<br />

ordem. Com efeito, C evidente que, ao se<br />

contemplar o todo, mu<strong>da</strong>m necessariamen-<br />

te to<strong>da</strong>s as perspectivas usuais, mu<strong>da</strong> a vi-<br />

sio do significado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do homem, e uma<br />

nova hierarquia de valores se imp6e.<br />

Em resumo, a ver<strong>da</strong>de contempla<strong>da</strong><br />

infunde enorme energia moral. E, como ve-<br />

remos, com base precisamente nessa ener-<br />

gia moral Platiio quis construir seu Estado<br />

ideal. To<strong>da</strong>via, so mais adiante poderemos<br />

desenvolver e esclarecer adequa<strong>da</strong>mente es-<br />

ses conceitos.<br />

Entretanto, resultou evidente a abso-<br />

luta originali<strong>da</strong>de dessa criaqiio grega. 0s<br />

povos orientais tambCm tiveram uma "sa-<br />

bedoria" que tentava interpretar o sentido<br />

de to<strong>da</strong>s as coisas (o sentido do todo), mas<br />

nio submeti<strong>da</strong> a objetivos pragmiticos. Tal<br />

sabedoria, porCm, estava permea<strong>da</strong> de re-<br />

presentaq6es fantisticas e miticas, o que a le-<br />

vava para a esfera <strong>da</strong> arte, <strong>da</strong> poesia ou <strong>da</strong><br />

religiio. Ter tentado essa aproxima@o com<br />

o todo fazendo uso apenas <strong>da</strong> raz2o (do<br />

logos) e do me'todo rational, foi, podemos<br />

concluir, a grande descoberta <strong>da</strong> "filo-sofia"<br />

grega. Uma descoberta que, estruturalmen-<br />

te e de mod0 irreversivel, condicionou todo<br />

o Ocidente.<br />

94 filosofia<br />

como necessi<strong>da</strong>de primApia<br />

do espirito G\umano<br />

AlguCm podera perguntar: Por que o<br />

homem sentiu necessi<strong>da</strong>de de filosofar? 0s<br />

antigos respondiam que tal necessi<strong>da</strong>de se<br />

enraiza estruturalmente na propria nature-<br />

za do homem. Escreve Aristoteles: "Por na-<br />

tureza, todos os homens aspiram ao saber."<br />

E ain<strong>da</strong>: "Exercitar a sabedoria e o conhe-<br />

cer siio por si mesmos desejiveis aos homens:<br />

com efeito, niio C possivel viver como ho-<br />

mens sem essas coisas."<br />

E os homens tendem ao saber porque<br />

se sentem cheios de "estupor" ou de "ma-<br />

ravilhamento". Diz Aristoteles: "0s homens<br />

comegaram a filosofar, tanto agora como na<br />

origem, por causa do maravilhamento: no<br />

principio, ficavam maravilhados diante <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des mais simples; em segui<strong>da</strong>, pro-<br />

gredindo pouco a pouco, chegaram a se co-<br />

locar problemas sempre maiores, como os<br />

relativos aos fen6menos <strong>da</strong> lua, do sol e dos<br />

astros e, depois, os problemas relativos a<br />

origem de todo o universe."<br />

Assim, a raiz <strong>da</strong> filosofia C precisamente<br />

esse "maravilhar-se", surgido no homem<br />

que se defronta com o Todo (a totali<strong>da</strong>de),

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