História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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A fisica aristotilica nHo investina - somente<br />
o universo fisico e sua estrutura, mas<br />
tambCm os seres que estio no universo, tanto<br />
os seres inanimados e sem razio como os seres<br />
animados e dotados de razHo (o homem).<br />
0 Estagirita dedica atengHo muito particular<br />
aos seres animados, elaborando grande<br />
quanti<strong>da</strong>de de tratados, dentre os quais se<br />
destaca pela profundi<strong>da</strong>de, originali<strong>da</strong>de e<br />
valor especulativo, o cClebre tratado Sobre<br />
a aha, que examinaremos agora.<br />
0s seres animados se diferenciam dos<br />
seres inanimados porque possuem um principio<br />
que lhes di a vi<strong>da</strong>, e esse principio C a<br />
alma. Mas o que C a alma? Para responder a<br />
questHo, Aristoteles remete-se a sua concepgio<br />
metafisica hilemorfica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, segundo<br />
a qual to<strong>da</strong>s as coisas em geral s2o<br />
sin010 de mate'ria e forma, onde a matbria e'<br />
potzncia e a forma e' entele'quia ou ato. Isso,<br />
naturalmente, vale tambCm para os seres vivos.<br />
Ora, observa o Estagirita, os corpos vivos<br />
tim vi<strong>da</strong> mas nHo sHo vi<strong>da</strong>. Portanto, sio<br />
como que o substrato material e potencial<br />
do qual a alma C "forma" e "ato". Temos<br />
assim a cClebre definiqiio de alma, que tanto<br />
ixito alcansou: "E necessario que a alma seja<br />
substiincia como forma de um corpo fisico que<br />
tem vi<strong>da</strong> em potincia; mas a substiincia como<br />
forma C enteliquia (= ato); a alma, portanto,<br />
C enteliquia de tal corpo. (...) Portanto, a<br />
alma C entelCquia primeira de um corpo fisico<br />
que tem a vi<strong>da</strong> em potgncia."<br />
Assim raciocina Aristoteles: visto que<br />
os fen6menos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pressup6em determina<strong>da</strong>s<br />
operag6es constantes claramente diferencia<strong>da</strong>s<br />
(a tal ponto que algumas delas<br />
podem subsistir em alguns seres sem que as<br />
outras estejam presentes), entHo tambCm a<br />
alma, que C principio de vi<strong>da</strong>, deve ter capaci<strong>da</strong>des,<br />
fungdes ou partes que presidem a<br />
essas operas6es e as regulam. Ora, os fen&<br />
menos e fung6es fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sHo:<br />
a) de cariter vegetativo, como nascimento,<br />
nutrigao, crescimento etc.;<br />
b) de cariter sensitivo-motor, como<br />
sensag20 e movimento;<br />
c) de cariter intelectivo, como conhecimento,<br />
delibera@o e escolha.<br />
Assim sendo, Aristoteles introduz a<br />
distincHo entre:<br />
a) "alma vegetativa";<br />
b) "alma sensitiva";<br />
C) "alma intelectiva" ou racional.<br />
As plantas possuem so a alma vege-<br />
tativa, os animais a vegetativa e a sensitiva,<br />
ao passo que os homens a vegetativa, a sen-<br />
sitiva e a racional. Para possuir a alma racio-<br />
nal o homem deve possuir as outras duas;<br />
<strong>da</strong> mesma forma, para possuir a alma sensi-<br />
tiva o animal deve possuir a vegetativa; no<br />
entanto, C possivel possuir a alma vegetativa<br />
sem possuir as almas sucessivas. No que se<br />
refere a alma intelectiva, porCm, o discurso<br />
C bem diverso e complexo, como veremos.<br />
f\ aIma vegetativa<br />
e suss f ~n@es<br />
A alma vegetativa C o principio mais<br />
elementar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, ou seja, o principio que<br />
governa e regula as ativi<strong>da</strong>des biologicas.<br />
Com seu conceit0 de alma, Aristoteles supera<br />
claramente a explicasio dos processos<br />
vitais <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos Naturalistas. A causa do<br />
"acrCscimo" nio esta no fogo nem no calor,<br />
nem na matiria em geral: quando muito,<br />
o fogo e o quente sio concausas, mas nio<br />
a ver<strong>da</strong>deira causa. Em todo process0 de<br />
nutrig20 e acriscimo esti presente como que<br />
uma norma que proporciona grandeza e<br />
acriscimo, que o fogo por si mesmo nio<br />
ode produzir e que, portanto, seria inexplicivel<br />
sem algo distinto do fogo - e essa<br />
norma C precisamente a alma. E, assim, tambCm<br />
o fen6meno <strong>da</strong> "nutrig50 ", conseqiientemente,<br />
deixa de ser explicado como jogo<br />
meciinico de relag6es entre elementos semelhantes<br />
(corno sustentavam alguns) ou mesmo<br />
entre certos elementos contririos: a nutrigio<br />
C assirnilagio do dessemelhante, torna<strong>da</strong><br />
~ossivel sempre pela alma, mediante o calor.<br />
Por fim, a alma vegetativa preside a<br />
"reprodugio", que C o objetivo de to<strong>da</strong> forma<br />
de vi<strong>da</strong> finita no tempo. Com efeito,<br />
to<strong>da</strong> forma de vi<strong>da</strong>, mesmo a mais elementar,<br />
t para a eterni<strong>da</strong>de e niio para a morte.<br />
f\ aIma sensitiva,<br />
o conhecimento sensivel,<br />
a apetiqho e o movimento<br />
AlCm <strong>da</strong>s fung6es que examinamos,<br />
os animais possuem sensa~Ges, apetites e<br />
movimento. Portanto, C precis0 admitir<br />
outro principio para presidir essas fung6es.