História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
124 Terceira parte - ;A descobertn do homem<br />
que a ciincia Ctica de Socrates, que ocupa<br />
o centro <strong>da</strong> disputa nos dialogos plat&<br />
nicos, niio teria sido pensavel sem o mode-<br />
lo <strong>da</strong> medicina, B qua1 Socrates se remete<br />
t5o frequentemente. A medicina lhe e' mais<br />
afim do que qualquer outro dentre os ra-<br />
mos do saber hurnano entiio conhecidos,<br />
compreendendo a matemitica e as ciincias<br />
naturais."<br />
Vejamos, portanto, algumas <strong>da</strong>s idCias<br />
hipocriticas mais famosas (a traduqgo <strong>da</strong>s<br />
passagens que citaremos foi extrai<strong>da</strong> de Ope-<br />
re di Ippocrate, organiza<strong>da</strong> por M. Vegetti,<br />
Utet, Turim).<br />
0 "ma1 sac~~ado''<br />
e a reduc60 de todos<br />
h mesma dimens60<br />
Na antigui<strong>da</strong>de, o "ma1 sagrado" era<br />
a epilepsia, pois era considera<strong>da</strong> efeito de<br />
causas niio-naturais e, portanto, consequin-<br />
cia de intervenqso divina. No lticido escrito<br />
que leva esse titulo, Hipocrates demonstra<br />
a seguinte tese, de mod0 exemplar.<br />
a) A epilepsia C considera<strong>da</strong> "ma1 sa-<br />
grado" porque se apresenta como fen8me-<br />
no estupefaciente e incompreensivel.<br />
b) Na reali<strong>da</strong>de, porim, ha doensas n5o<br />
menos estupefacientes, como certas mani-<br />
festaq6es febris e o sonambulismo; portan-<br />
to, a epilepsia nso C diferente dessas outras<br />
doencas.<br />
c) Assim, ignorsncia foi a causa que<br />
levou a considerar a epilepsia como "ma1 sa-<br />
grado".<br />
d) Assim sendo, aqueles que pretendem<br />
cura-la com atos de magia s5o embusteiros<br />
e imoostores.<br />
e) Ademais, tais pessoas estiio em con-<br />
tradisio consigo mesmas, pois pretendem<br />
curar com praticas humanas males julgados<br />
divinos, de mod0 que essas priticas, longe<br />
de serem express6es de religiosi<strong>da</strong>de e devo-<br />
$50, siio impias e atCias, porque pretenderiam<br />
exercer um ooder sobre os deuses.<br />
0 pocferoso racionalismo dessa obra<br />
revela-se de particular importsncia, pois Hi-<br />
pocrates, longe de ser ateu, mostra ter com-<br />
re en dido perfeitamente a importsncia do<br />
divino. ao sustentar orecisamente nessas<br />
bases a'imoossibili<strong>da</strong>dide misturar o divino.<br />
de mod0 ibsurdo, com as causas <strong>da</strong>s doen:<br />
gas. As causas de to<strong>da</strong>s as doensas perten-<br />
cem a uma tinica e mesma dimensgo. Escre-<br />
ve ele: "( ...) n5o creio que o corpo do<br />
homem possa ser contaminado por um deus,<br />
o mais corruptive1 pel0 mais sagrado. To-<br />
<strong>da</strong>via, mesmo que seja contaminado ou, de<br />
qualquer modo, atingido por um agente<br />
externo, por um deus sera purificado e san-<br />
tificado antes que contaminado. Certamen-<br />
te, C o divino que nos santifica, purifica e<br />
limpa dos nossos erros gravissimos e impios:<br />
nos mesmos tracamos os limites dos tem-<br />
pos e recintos dos deuses para que nao os<br />
ultrapasse ninguCm que ngo esteja puro e,<br />
ao entrar neles, nos aspergimos, niio por-<br />
que estejamos a ponto de nos contaminar, e<br />
sim para nos limpar se ja carregamos algu-<br />
ma mancha sobre nos."<br />
Qua1 6, entio, a causa <strong>da</strong> epilepsia? E<br />
uma alterasgo do cCrebro deriva<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mes-<br />
mas causas racionais de que derivam to<strong>da</strong>s<br />
as outras alterac6es morbosas. uma "adiq20"<br />
ou ccsubtr~qiio" de secura e umi<strong>da</strong>de,<br />
calor e frio etc. Portanto, conclui Hipocrates,<br />
quem, "pelo regime, sabe determinar nos<br />
homens a secura e a umi<strong>da</strong>de, o frio e o calor,<br />
tambCm pode curar esse mal, se conse-