História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
destacando-se os comentarios e alguns dialogos<br />
plat6nicos, especialmente Teologia<br />
plat6nica e Elementos de teologia.<br />
Nio nos deteremos na complexa sistematizaqio<br />
do mundo inteligivel, com to<strong>da</strong>s<br />
as suas divis6es e subdivisoes triadicas, porque<br />
a grandeza de Proclo niio reside nisso.<br />
Com efeito, ele se distinguiu pel0 aprofun<strong>da</strong>mento<br />
<strong>da</strong>s leis que governam a processiio<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, ou seja, precisamente pel0<br />
aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>quele ponto que, como<br />
vimos, marcou a contribuiqio essencial do<br />
Neoplatonismo.<br />
Em primeiro lugar, devemos destacar<br />
a determinaqio perfeita que Proclo fez <strong>da</strong><br />
lei ontologica que governa a geraqiio de to<strong>da</strong>s<br />
as coisas, entendi<strong>da</strong> como processo circular<br />
constituido de trts momentos:<br />
1) a "manhcia" (monk), ou seja, o<br />
permanecer em si do principio;<br />
2) a "processio" (prdodos), ou seja, o<br />
sair do principio;<br />
3) o "retorno" ou a "conversiio" (epistrophe'),<br />
ou seja, a reuniio ao principio.<br />
Como vimos, Plotino ja identificara<br />
esses trts momentos, que desempenham em<br />
seu sistema papel bem mais complexo do<br />
que habitualmente se acredita.<br />
Entretanto, Proclo vai alCm de Plotino,<br />
levando essa lei triidica a um nivel excepcional<br />
de refinamento especulativo. A lei vale<br />
niio somente em geral, mas tambCm em particular,<br />
a medi<strong>da</strong> que expressa o pr6prio ritmo<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de em sua totali<strong>da</strong>de, bem<br />
como em todos os seus momentos particulares.<br />
Assim como qualquer outra reali<strong>da</strong>de<br />
que produz algo, o Uno produz por causa<br />
"de sua perfeiqiio e superabundhcia de<br />
poder", segundo um processo triadico.<br />
1) Todo ente produtivo permanece<br />
como C (precisamente devido a sua perfeiqio)<br />
e, por causa desse seu permanecer imovel<br />
e irredutivel, produz.<br />
2) A "processio" niio C uma transiqiio,<br />
como se o produto que dela deriva fosse<br />
parte dividi<strong>da</strong> do produtor, mas C o resultado<br />
<strong>da</strong> multiplicaqio que o produtor faz de si<br />
mesmo, em virtude de sua propria potincia.<br />
Ademais, aquilo que procede 6 semelhante<br />
iquilo do qua1 procede, e a semelhan~a C anterior<br />
a dessemelhanqa: a dessemelhanqa consiste<br />
apenas no fato de ser o produtor melhor,<br />
ou seja, mais potente, que o produto.<br />
3) Conseqiientemente, as coisas deriva<strong>da</strong>s<br />
tim afini<strong>da</strong>de estrutural com suas<br />
causas; ademais, aspiram a manter-se em<br />
contato com elas e, portanto, a "retornar"<br />
a elas. Por isso, as hipostases nascem por<br />
raziio de semelhanqa e niio por raziio de dessemelhanca.<br />
0 processo triadico C pensado em termos<br />
de circulo, niio no sentido <strong>da</strong> sucessio<br />
de momentos, como se houvesse distinqiio<br />
cronol6gica de antes e depois entre "mantncia",<br />
"processiio" e "retorno", mas no sentido<br />
<strong>da</strong> distirqio 16gica e, portanto, <strong>da</strong> coexisttncia<br />
dos momentos, no sentido de que<br />
todo processo C perene permanecer, perene<br />
proceder e perene retornar. AlCm disso, ressalte-se<br />
que, com base no principio <strong>da</strong> semelhanqa<br />
que ilustramos, niio somente a<br />
causa permanece como causa, mas tambCm,<br />
em certo sentido, o produto permanece na<br />
causa no mesmo momento em que procede,<br />
pel0 motivo de que o proceder niio C um<br />
"separar-sen, ou seja, um tornar-se totalmente<br />
outro.<br />
Uma segun<strong>da</strong> lei, estreitamente liga<strong>da</strong><br />
a essa. C a do assim chamado "ternario".<br />
Em estudos especializados, hi muito que essa<br />
lei ja fora indica<strong>da</strong> como "a chave <strong>da</strong> filosofia<br />
de Proclo", mas niio havia sido acata<strong>da</strong><br />
pela communis opinio. Agora, porCm,<br />
foi reafirma<strong>da</strong> e posta em primeiro plano.<br />
Proclo considera que to<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, em todos<br />
os niveis, do incorporeo ao corp6re0, C<br />
constitui<strong>da</strong> por estes componentes essenciais:<br />
1) o limite (pe'ras) e 2) o "ilimite"<br />
(apeiron) ou "infinito" (que siio como forma<br />
e matkria); conseqiientemente, 3) todo<br />
ente C como aue a "mistura" ou a sintese<br />
deles (essa C uma tese evidentemente deriva<strong>da</strong><br />
do Filebo e <strong>da</strong>s doutrinas nio escritas<br />
de Platio).<br />
A lei do ternario (que consiste, portanto,<br />
no fato de ser todo ente constituido pel0<br />
limite, pel0 ilimite e pela diferente mistura<br />
dos dois) nio vale somente para as hip&<br />
tases superiores, mas tambCm para a alma,<br />
para os entes matemiticos, para os entes fisicos;<br />
em suma, para tudo, sem exceqiio.<br />
Nesse contexto, a matiria (sensivel)<br />
vem a ser a ultima infinitude (ou ilimitaqiio)<br />
e, assim, "C boa em certo sentido" (ao contrario<br />
do que pensava Plotino), enquanto C<br />
a ultima efusiio do Uno segundo a lei unitaria<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />
0s Elementos de teologia, dedicados a<br />
ilustraqiio desses principios e as leis gerais<br />
do sistema, constituem a obra mais vigorosa<br />
de Proclo, visto que, nela, o filosofo, tirando<br />
dos ombros em grande parte a preocupa~iio<br />
dominante <strong>da</strong> Teologia platijnica,