12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Sexta parte - AS escolas filosbficas <strong>da</strong> era helenistica<br />

Contra o mecanicismo dos Epicuristas,<br />

os Est6icos defendem uma rigorosa concep-<br />

qiio finalistica. Com efeito, se to<strong>da</strong>s as coisas<br />

sem exceqio sio produzi<strong>da</strong>s pelo principio<br />

divino imanente, que C Logos, inteligincia<br />

e raziio, tudo 6 rigorosa e profun<strong>da</strong>mente<br />

racional, tudo C como a razio quer que seja,<br />

e como ela nio pode deixar de querer que<br />

seja, tudo C como deve ser e como C bom que<br />

seja, e o conjunto de to<strong>da</strong>s as coisas C per-<br />

feito; nio existe obsticulo ontologico a obra<br />

do Artifice imanente, <strong>da</strong>do que a propria<br />

matiria C veiculo de Deus; assim, tudo o que<br />

existe tem seu significado precis0 e C feito<br />

do melhor dos modos possiveis; o todo, em<br />

si, C perfeito; as coisas singulares, conside-<br />

ra<strong>da</strong>s em si imperfeitas, tim sua perfeiqiio<br />

no quadro do todo.<br />

Estreitamente liga<strong>da</strong> a essa concepqio<br />

encontra-se a noqio de "Providincia" (Prd-<br />

noia). A Providincia estoica, tenha-se pre-<br />

sente, na<strong>da</strong> tem a per com a Providincia de<br />

um Deus pessoal. E o finalismo universal que<br />

faz corn que ca<strong>da</strong> coisa (mesmo a menor <strong>da</strong>s<br />

coisas) sej? feita como C bom e como C melhor<br />

que seja. E uma Providincia imanente e nio<br />

transcendente, que coincide com o Artifice<br />

imanente, com a Alma do mundo.<br />

"Fadon OM 'DestinoN<br />

e liber<strong>da</strong>de do shbio<br />

Desse modo, a Providhcia imanente<br />

dos Estoicos, vista por outra perspectiva,<br />

revela-se como "Fado" e como "Destino"<br />

(Heimarme'ne), ou seja, como Necessi<strong>da</strong>de<br />

inelutivel. 0 s Est6icos entendiam esse Fa-<br />

do como a sCrie irreversivel <strong>da</strong>s causas, como<br />

a "ordem natural e necessiria de to<strong>da</strong>s as<br />

coisas", como a indissolfivel trama que liga<br />

todos os seres, como o logos segundo o qua1<br />

as coisas aconteci<strong>da</strong>s aconteceram: "aque-<br />

las que acontecem, acontecem; e aquelas que<br />

acontecerio, acontecerio." E posto que tu-<br />

do depende do logos imanente, tudo 6 ne-<br />

cessbrio (assim como tudo C providencial,<br />

do mod0 como vimos), mesmo o aconteci-<br />

mento mais insignificante. Estamos diante<br />

do oposto <strong>da</strong> visiio epicurista, que, com a<br />

"declinaqio dos itornos", ao contrario, pu-<br />

sera to<strong>da</strong>s as coisas ao sabor do acaso e do<br />

fortuito.<br />

Mas, no context0 desse fatalismo, como<br />

se salva a liber<strong>da</strong>de do homem? A ver<strong>da</strong>deira<br />

liber<strong>da</strong>de do sibio consiste em conformar<br />

a propria vontade B do Destino, consiste<br />

em querer, com o Fado, aquilo que o<br />

Fado quer. Isso C "liber<strong>da</strong>de", enquanto aceita@o<br />

racional do Fado, que C racionali<strong>da</strong>de.<br />

Com efeito, o Destino t o Logos; por isso,<br />

querer os quereres do Destino C querer os<br />

quereres do Logos. Liber<strong>da</strong>de, pois, C p6r a<br />

vi<strong>da</strong> em total sintonia com o Logos. Por isso<br />

Cleanto escrevia:<br />

"Guia-me, 6 Jiipiter, e tu, Destino, ao fim,<br />

seja qua1 for, que vos praza assinalar-me.<br />

Seguirei irnediatamente, pois se me atraso,<br />

por ser vil, mesmo assirn deverei alcanqar-vos"<br />

.<br />

Eis uma bela passagem, referi<strong>da</strong> por<br />

fonte antiga, que exemplifica muito bem o<br />

conceit0 express0 acima: "0s Est6icos tambCm<br />

afirmaram com certeza que to<strong>da</strong>s as<br />

coisas ocorrem por fado, servindo-se do seguinte<br />

exemplo: um ciio que esti amarrado<br />

a um carro, se quiser segui-lo, C puxado e o<br />

segue, fazendo necessariamente aquilo que<br />

tambCm faz por sua vontade; se, ao contrario,<br />

niio quiser segui-lo, sera obrigado, de<br />

to<strong>da</strong> forma, a fazi-lo. A mesma coisa na ver<strong>da</strong>de<br />

ocorre com os homens. Mesmo que<br />

nio queiram seguir [o Destino], serio em<br />

todo caso obrigados a chegar ao que foi estabelecido<br />

pelo fado." Sineca dira, traduzindo<br />

um verso de Cleanto com sentenqa<br />

lapi<strong>da</strong>r: "Ducunt volentem fata, nolentem<br />

trahunt" ("0 destino guia quem o aceita, e<br />

arrasta quem o rejeita").<br />

concep@o estbica<br />

<strong>da</strong> conflagraG2;o ~niversal<br />

e <strong>da</strong> palingZnese<br />

Mas hi ain<strong>da</strong> um ponto essencial a ser<br />

ilustrado no que se refere a cosmologia dos<br />

Est6icos. Como os PrC-socriticos, os Est6icos<br />

propuseram um mundo gerado e, em conse-<br />

qiiincia, corruptive1 (aquilo que nasce deve,<br />

em certo momento, morrer). De resto, era a<br />

propria expericncia que lhes dizia que, como<br />

existe um fog0 que cria, existe tambCm um<br />

fog0 ou um aspect0 do fogo que queima,<br />

incinera e destroi. No entanto, era impensi-<br />

vel que as coisas singulares do mundo fos-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!