12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

econheceram, introduz na civilizaq50 grega<br />

novo esquema de creqas e nova interpreta~iio<br />

<strong>da</strong> existgncia humana. Efetivamente,<br />

enquanto a concepq5o grega tradicional,<br />

a partir de Homero, considerava o homem<br />

como mortal, pondo na morte o fim total<br />

de sua existtncia, o Orfismo proclama a imortali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> alma e concebe o homem conforme<br />

o esquema dualista que contrap6e o<br />

corpo B alma.<br />

0 nficleo <strong>da</strong>s crenqas orficas pode ser<br />

resumido como segue:<br />

a) No homem hospe<strong>da</strong>-se um principio<br />

divino, um dem6nio (alma) que caiu<br />

em um corpo por causa de uma culpa originaria.<br />

b) Esse dem6nio niio apenas preexiste<br />

ao corpo, mas tambim n5o morre com o<br />

corpo, pois esta destinado a reencarnar-se<br />

em corpos sucessivos, a fim de expiar aquela<br />

culpa originaria.<br />

c) Com seus ritos e praticas, a "vi<strong>da</strong><br />

6rfica" i a unica em grau de p6r fim ao ciclo<br />

<strong>da</strong>s reencarnaq6es e de, assim, libertar a<br />

alma do corpo.<br />

d) Para quem se purificou (0s iniciados<br />

nos mistirios 6rficos) hi urn prtmio no<br />

alim (<strong>da</strong> mesma forma que ha puniq6es para<br />

os n5o iniciados).<br />

Em algumas kminas 6rficas encontra<strong>da</strong>s<br />

nos sepulcros de seguidores dessa seita,<br />

entre outras coisas, ltem-se estas palavras,<br />

que resumem o nficleo central <strong>da</strong><br />

doutrina: "Alegra-te, tu que sofreste a paixiio:<br />

antes, nio a havias sofrido. De homem,<br />

nasceste Deus"; "Feliz e bem-aventurado,<br />

seras Deus ao invis de mortal"; "De<br />

homem nasceras Deus, pois derivas do divino".<br />

Isso significa que o destino ultimo<br />

do homem i o de "voltar a estar junto aos<br />

deuses". Com esse novo esquema de crenqas,<br />

o homem via pela primeira vez a contraposiqiio<br />

em si de dois principios em contraste<br />

e luta: a alma (dem6nio) e o corpo<br />

(corno tumba ou lugar de expia~zo <strong>da</strong> alma).<br />

Rompe-se assim a visiio naturalista; o<br />

homem compreende que algumas tendzncias<br />

liga<strong>da</strong>s ao corpo devem ser reprimi<strong>da</strong>s,<br />

ao passo que a purificaqiio do elemento<br />

divino em relaqiio ao elemento corporeo<br />

torna-se o objetivo do viver.<br />

Uma coisa deve-se ter presente: sem o<br />

Orfismo niio se explicaria Pitagoras, nem<br />

Heraclito, nem Empidocles e, sobretudo,<br />

niio se explicaria uma parte essencial do<br />

pensamento de Plat50 e, depois, de to<strong>da</strong> a<br />

tradiqiio que deriva de Plat5o; ou seja, n5o<br />

Particular de esquer<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> "Escola de Atenas"<br />

de Raffaello, representando um rito 6rfico.<br />

A base <strong>da</strong> coluna quer indicar<br />

que a revela@io 6rfica constitui<br />

a base sobre a qua1 se constrdi a filosofia.<br />

Pitagoras, Heraclito, Empe'docles, Plat50<br />

e o tardio Platonismo se inspiraram no Orfismo.<br />

se explicaria grande parte <strong>da</strong> filosofia anti-<br />

ga, como veremos melhor mais adiante.<br />

Faltu de dogrnas<br />

e de seus guardioes na religi6o 9re9a<br />

Uma ultima observaq5o C necessaria.<br />

0s gregos n5o tiveram livros sagrados ou<br />

considerados fruto de revelaq5o divina. Con-<br />

seqiientemente, n5o tiveram uma dogmatica<br />

(isto i, um nucleo doutrinai) fixa e imuta-<br />

vel. Como vimos, os poetas constituiram-se<br />

o veiculo de difusao de suas crenqas reli-<br />

giosas.<br />

AlCm disso (e esta i outra conseqiih-<br />

cia <strong>da</strong> falta de livros sagrados e de uma<br />

dogmatica fixa), na GrCcia tambim n5o p6-<br />

de subsistir uma casta sacerdotal guardi5 do<br />

dogma (0s sacerdotes tiveram escassa rele-<br />

vincia e escassissimo poder, porque n5o ti-<br />

veram a prerrogativa de conservar dogmas,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!