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lições de direito econconômico leonardo vizeu figueiredo ed forense 2014

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enquanto o comércio e a indústria apenas circulavam ou transformavam a riqueza natural.<br />

Seus teóricos mais <strong>de</strong>stacados foram Quesnay (1694-1774), Turgot (1727-1781) e,<br />

especialmente, Gournay (1712-1759), que, em nome da plena liberda<strong>de</strong> para todas as ativida<strong>de</strong>s<br />

comerciais e industriais, <strong>de</strong>fendiam a abolição das taxas aduaneiras externas, dos encargos internos,<br />

das regulamentações e das corporações. Gournay consagrou a frase Laissez-faire, laissez-passer<br />

(Deixe fazer, <strong>de</strong>ixe passar – nossa livre tradução).<br />

Cumpre ressaltar, por oportuno, que o pensamento dos fisiocratas encontra-se visceralmente<br />

vinculado à realida<strong>de</strong> da época francesa, on<strong>de</strong> a economia passava por sérias dificulda<strong>de</strong>s, as quais<br />

eram vistas como fruto da política <strong>de</strong> Colbert, ministro do rei Luiz XIV.<br />

O Colbertismo teve, essencialmente, a busca por dinamizar a produção manufatureira na França,<br />

em <strong>de</strong>trimento da agricultura, a qual sofreu fortes restrições por parte da monarquia, inclusive com a<br />

proibição da exportação <strong>de</strong> gêneros agrícolas. Objetivava-se, com isso, promover uma migração <strong>de</strong><br />

mão <strong>de</strong> obra do campo, com um consequente êxodo rural, ampliando assim a oferta <strong>de</strong> trabalho<br />

assalariado urbano.<br />

A crítica dos fisiocratas vai justamente negar as duas atitu<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas como geradoras da<br />

crise. A primeira seria a própria intervenção do Estado na economia, contrapondo-se à lei natural<br />

que a rege. E a segunda, a própria retração da agricultura provocada pelas m<strong>ed</strong>idas <strong>de</strong> Colbert. É<br />

<strong>de</strong>ssa crítica que surgiram as concepções fisiocratas, ponto <strong>de</strong> partida para o liberalismo.<br />

10.3. O PENSAMENTO ECONÔMICO CLÁSSICO<br />

A teoria clássica da filosofia sobre a justa distribuição <strong>de</strong> rendas e riquezas, que originou a<br />

economia quanto ciência autônoma, tem como marco fundamental a publicação da obra do filósofo<br />

escocês Adam Smith, no ano <strong>de</strong> 1776, a saber, Investigação sobre a natureza e as causas da<br />

riqueza das nações. Seu mérito situa-se no fato <strong>de</strong> ter estudado as relações dos fatores <strong>de</strong> produção<br />

e <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> bens e mercadorias como fatores <strong>de</strong> maximização <strong>de</strong> resultados econômicos nas<br />

nações, sendo instrumentos potencializadores do <strong>de</strong>senvolvimento social, consequência <strong>de</strong>sejável<br />

para o crescimento econômico.<br />

Para se enten<strong>de</strong>r o pensamento <strong>de</strong> Smith, entretanto, é necessário analisar, exordialmente, sua<br />

obra Teoria dos sentimentos morais, já que oferece ao leitor uma boa noção da sua visão filosófica,<br />

que é, não raro, o primeiro passo importante para se compreen<strong>de</strong>r bem a visão econômica. Trata-se<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição dos supostos princípios universais da natureza humana em que se assentam as<br />

instituições sociais. Po<strong>de</strong>-se dizer que é a base psicológica sobre a qual se fundará Investigação<br />

sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, a obra capital <strong>de</strong> Adam Smith, <strong>ed</strong>itada 17<br />

anos mais tar<strong>de</strong>.<br />

Em sua primeira obra, Smith <strong>de</strong>screve a figura do espectador imparcial, que faz com que os<br />

homens, mesmo visando ao seu próprio interesse, ajam <strong>de</strong> acordo com sua consciência. A ação do<br />

espectador imparcial, <strong>de</strong>ssa forma, é análoga à da “mão invisível”, <strong>de</strong>senvolvida posteriormente na<br />

economia política, conduzindo-se sem intencionalida<strong>de</strong>, mas provendo sempre o melhor com base no<br />

exercício espontâneo do egoísmo. Assim, a visão <strong>de</strong> Smith a respeito da intervenção do Estado na<br />

economia foi construída através da crítica à política mercantilista, sistema econômico que, com suas<br />

variantes, foi pr<strong>ed</strong>ominante à época, haja vista que as tentativas <strong>de</strong> impor or<strong>de</strong>m ao ciclo econômico<br />

por meio do processo político acabavam gerando discórdia, ineficiência e confusão. Isso porque,<br />

dado o fracasso da experiência mercantilista, Smith concluiu que a ação política do Estado, muitas

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