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lições de direito econconômico leonardo vizeu figueiredo ed forense 2014

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Para o Papa Leão XIII, o Estado não <strong>de</strong>veria ser aquela potesta<strong>de</strong> autoritária e onipotente, i<strong>de</strong>ada<br />

pelo marxismo. Para a Igreja, o Estado <strong>de</strong>veria ser, antes <strong>de</strong> tudo, um instrumento <strong>de</strong> justiça. Lê-se na<br />

Rerum Novarum, a respeito do socialismo:<br />

Os socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem, e preten<strong>de</strong>m que toda a<br />

propri<strong>ed</strong>a<strong>de</strong> <strong>de</strong> bens particulares <strong>de</strong>ve ser suprida, que os bens dum indivíduo qualquer <strong>de</strong>vem ser comuns a todos, e que<br />

a sua administração <strong>de</strong>ve voltar para os Municípios ou para o Estado. M<strong>ed</strong>iante esta trasladação das propri<strong>ed</strong>a<strong>de</strong>s e esta<br />

igual repartição das riquezas e das comodida<strong>de</strong>s que elas proporcionam entre os cidadãos, lisonjeiam-se <strong>de</strong> aplicar um<br />

remédio eficaz aos males presentes. Mas semelhante teoria, longe <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> pôr termo ao conflito, prejudicaria o<br />

operário se fosse posta em prática. Outrossim, é sumamente injusta, por violar os <strong>direito</strong>s legítimos dos proprietários, viciar<br />

as funções do Estado e ten<strong>de</strong>r para a subversão completa do <strong>ed</strong>ifício social.<br />

Sobre o comunismo, que o Sumo Pontífice consi<strong>de</strong>ra “princípio <strong>de</strong> empobrecimento”, escreve:<br />

Mas, além da injustiça do seu sistema, veem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação em todas as<br />

classes da soci<strong>ed</strong>a<strong>de</strong>, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos<br />

os <strong>de</strong>scontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilida<strong>de</strong> privados dos seus estímulos, e, como consequência<br />

necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim em lugar <strong>de</strong>ssa igualda<strong>de</strong> tão sonhada, a igualda<strong>de</strong> da nu<strong>de</strong>z, na<br />

indigência e na miséria. Por tudo o que nós acabamos <strong>de</strong> dizer, se compreen<strong>de</strong> que a teoria socialista da propri<strong>ed</strong>a<strong>de</strong><br />

coletiva <strong>de</strong>ve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer socorrer, contrária aos <strong>direito</strong>s<br />

naturais dos indivíduos, como <strong>de</strong>snaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilida<strong>de</strong> pública. Fique, pois, bem<br />

assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo, é a<br />

inviolabilida<strong>de</strong> da propri<strong>ed</strong>a<strong>de</strong> particular. Expliquemos agora on<strong>de</strong> convém procurar o remédio tão <strong>de</strong>sejado.<br />

O referido sumo pontífice, <strong>de</strong>starte, buscou apontar as origens do conflito entre os agentes da<br />

produção e os trabalhadores. Indicou, como causa exordial, a alteração do sistema <strong>de</strong> produção das<br />

antigas corporações, ocorrida no século XVIII, na qual os meios artesanais foram substituídos pelo<br />

sistema <strong>de</strong> produção em massa, inserindo a classe trabalhadora nesse novo mosaico <strong>de</strong> labor sem<br />

qualquer proteção. Some-se a isso que, por meio dos movimentos materialistas que negavam o<br />

sentimento religioso, houve um recru<strong>de</strong>scimento no processo legislativo, on<strong>de</strong> as leis e as<br />

instituições públicas ficaram isoladas das concepções <strong>de</strong> moral-cristã, as quais, na visão clerical,<br />

serviam <strong>de</strong> freio à cobiça e à concorrência <strong>de</strong>senfreada.<br />

Ao contrário do que o socialismo materialista pregava, conforme será visto adiante, a Igreja,<br />

ainda por meio da Rerum Novarum, propugnava que a solução <strong>de</strong> conflito estaria antes na concórdia<br />

das classes sociais do que em sua luta. Todavia, o ponto <strong>de</strong> maior diferença entre o pensamento<br />

religioso e o materialista social era o posicionamento no que se refere à individualização da<br />

propri<strong>ed</strong>a<strong>de</strong> privada no patrimônio jurídico do homem. Segundo os teólogos, a propri<strong>ed</strong>a<strong>de</strong><br />

particular seria um apanágio do <strong>direito</strong> natural, sancionado pelo costume <strong>de</strong> todos os séculos. Nesse<br />

ponto, em abono <strong>de</strong> suas consi<strong>de</strong>rações e para justificar a justeza da propri<strong>ed</strong>a<strong>de</strong> privada, o<br />

pensamento cristão invoca Santo Tomás <strong>de</strong> Aquino e a própria Bíblia Sagrada. 7<br />

No que diz respeito às relações laborais entre operários e patrões, chega até a propor uma pauta<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>veres para ambos, propondo que o primeiro postulado a pôr em evidência é o <strong>de</strong> que o homem<br />

<strong>de</strong>ve aceitar, com serenida<strong>de</strong>, a sua condição. Nesse diapasão, seriam <strong>de</strong>veres dos pobres e<br />

operários: fornecer integral e fielmente o trabalho a que se haviam obrigado por sua livre vonta<strong>de</strong>;<br />

não lesar o seu patrão, nem em seu patrimônio nem em sua pessoa; reivindicar sem violências ou<br />

s<strong>ed</strong>ições; e fugir dos elementos nocivos e perversos que, através <strong>de</strong> discursos s<strong>ed</strong>utores, enchem-lhes<br />

os corações <strong>de</strong> esperanças vãs e exageradas, as quais só conduzem a frustrações e ruína das fortunas.

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