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A história da loucura na idade clássica

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se se encontrar no futuro pessoas suficientemente más a ponto de misturar à<br />

superstição a impie<strong>da</strong>de e o sacrilégio... desejamos que as que forem<br />

culpa<strong>da</strong>s sejam puni<strong>da</strong>s com a morte.<br />

Fi<strong>na</strong>lmente, essas pe<strong>na</strong>s serão aplica<strong>da</strong>s a todos os que<br />

utilizarem poções ou venenos, "quer ocorra a morte ou não". Ora,<br />

dois fatos são característicos: primeiro, que as conde<strong>na</strong>ções por<br />

práticas de feitiçaria ou trabalhos mágicos tor<strong>na</strong>m-se bem raras ao<br />

fi<strong>na</strong>l do século XVII e após o episódio dos venenos; assi<strong>na</strong>lam-se<br />

ain<strong>da</strong> alguns casos, sobretudo no interior — mas logo as severi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> lei diminuem. No entanto, as práticas conde<strong>na</strong><strong>da</strong>s não<br />

desaparecem: o Hospital Geral e as casas de inter<strong>na</strong>mento recebem<br />

em grande número pessoas que mexeram com feitiçaria, magia,<br />

adivinhação, às vezes mesmo alquimia 50 . Como se, por baixo de uma<br />

regra jurídica severa, se tramasse aos poucos uma prática e uma<br />

consciência sociais de um tipo bem diferente que percebem nessas<br />

condutas uma significação bem diversa. Coisa curiosa é que essa<br />

significação que permite evitar a lei e suas antigas severi<strong>da</strong>des está<br />

formula<strong>da</strong> pelo próprio legislador nos consideran<strong>da</strong> do édito de 1682.<br />

O texto, com efeito, dirige-se contra "aqueles que se dizem<br />

adivinhos, mágicos, encantadores", pois teria sido o caso de que<br />

com o pretexto dos horóscopos e de adivinhações e através de operações<br />

pretensamente mágicas, e outras ilusões <strong>da</strong>s quais essas pessoas costumam<br />

servir-se, teriam surpreendido diversas pessoas ignorantes ou crédulas que<br />

insensivelmente se tinham comprometido com eles.<br />

Pouco depois, o texto desig<strong>na</strong> aqueles que<br />

sob a vã profissão de adivinhos, mágicos, feiticeiros ou outros nomes<br />

semelhantes, conde<strong>na</strong>dos pelas leis huma<strong>na</strong>s e divi<strong>na</strong>s, corrompem e<br />

infeccio<strong>na</strong>m o espírito <strong>da</strong>s pessoas com seus discursos e práticas e com a<br />

profa<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>quilo que a religião tem de mais sagrados 51 .<br />

50 Alguns exemplos. Feitiçaria: em 1706 transfere-se <strong>da</strong> Bastilha para a Salpêtrière<br />

a viúva de Matte «como falsa feiticeira, que sustentava suas adivinhações<br />

ridículas com sacrilégios abomináveis». No ano seguinte ela fica doente e<br />

«esperamos que sua morte logo purgará o público» (RAVAISSON Archives<br />

Bastílle, XI, p. 168). Alquimistas: «O sr. Aulmont, o jovem, levou (à Bastilha)<br />

a Lamy, que só hoje póde sera encontra<strong>da</strong>, sendo 1 entre 3, 3 dos quais já<br />

foram presos e enviados a Bicêtre, e as mulheres ao Hospital Geral, por<br />

segredos de metais» Jour<strong>na</strong>l de Du Junca, cit. por RAVAISSON, XI, p. 165).<br />

Ou ain<strong>da</strong> Marie Mag<strong>na</strong>n, que trabalha em «destilações e congelamentos de<br />

mercúrio a fim de fazer ouro» (Salpétrière, Archives prejectorales de police<br />

Br. 191). Mágicos: a dita Mailly envia<strong>da</strong> a Salpêtrière por ter composto um<br />

filtro do amor «para uma mulher viúva cisma<strong>da</strong> por um jovem» (Notes de R.<br />

d'Argenson, p. 88).<br />

51 DELAMARE, loc. cit., p. 562.<br />

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