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A história da loucura na idade clássica

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i<strong>na</strong>lienável. E é possível estabelecer assim, no mito do Retiro, ao<br />

mesmo tempo o procedimento imaginário <strong>da</strong> cura, tal como<br />

obscuramente se supõe que seja, e a essência <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> tal como<br />

ela vai ser implicitamente transmiti<strong>da</strong> ao século XIX:<br />

ver<strong>da</strong>de.<br />

1. O papel do inter<strong>na</strong>mento é o de reduzir a <strong>loucura</strong> à sua<br />

2. A ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> é aquilo que ela é, menos o mundo,<br />

menos a socie<strong>da</strong>de, menos a contra<strong>na</strong>tureza.<br />

3. Essa ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> é o próprio homem <strong>na</strong>quilo que ele<br />

pode ter de mais primitivamente i<strong>na</strong>lienável.<br />

4. O que existe de i<strong>na</strong>lienável no homem é, ao mesmo tempo, a<br />

Natureza, a Ver<strong>da</strong>de e a Moral, isto é, a própria Razão.<br />

5. É por conduzir a <strong>loucura</strong> a uma ver<strong>da</strong>de que é ao mesmo<br />

tempo ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> e ver<strong>da</strong>de do homem, a uma <strong>na</strong>tureza que<br />

é <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> doença e <strong>na</strong>tureza sere<strong>na</strong> do mundo, que o Retiro<br />

recebe seu poder de curar.<br />

Vê-se assim onde o positivismo poderá se basear nessa dialética,<br />

onde <strong>na</strong><strong>da</strong> no entanto parece anunciá-la, uma vez que tudo aponta<br />

para experiências morais, temas filosóficos, imagens sonha<strong>da</strong>s do<br />

homem. Mas o positivismo será ape<strong>na</strong>s a contração desse<br />

movimento, a redução desse espaço mítico; ele admitirá desde logo,<br />

como evidência objetiva, que a ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> é a razão do<br />

homem, o que inverte inteiramente a concepção <strong>clássica</strong>, para a qual<br />

a experiência do desatino <strong>na</strong> <strong>loucura</strong> contesta tudo o que pode haver<br />

de ver<strong>da</strong>de no homem. Doravante, todo domínio objetivo sobre a<br />

<strong>loucura</strong>, todo conhecimento, to<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de formula<strong>da</strong> sobre ela será a<br />

própria razão, a razão recoberta e triunfante, o desenlace <strong>da</strong><br />

alie<strong>na</strong>ção.<br />

No relato tradicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> liberação dos acorrentados de Bicêtre,<br />

um ponto não foi estabelecido com segurança: é a presença de<br />

Couthon. Foi dito que sua visita era impossível, que deve ter sido<br />

confundido com um membro <strong>da</strong> Comu<strong>na</strong> de Paris, também este<br />

paralítico, e que esta mesma enfermi<strong>da</strong>de, acresci<strong>da</strong> à sinistra<br />

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