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A história da loucura na idade clássica

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etapas <strong>da</strong> cura, as fases pelas quais ela passa e os momentos que a<br />

constituem devem articular-se sobre a <strong>na</strong>tureza visível <strong>da</strong> doença,<br />

desposar suas contradições e perseguir ca<strong>da</strong> uma de suas causas.<br />

Mais ain<strong>da</strong>: deve reger-se por seus próprios esforços, corrigir-se,<br />

compensar progressivamente as etapas pelas quais passa a cura e,<br />

se preciso for, contradizer-se caso a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> doença e o efeito<br />

provisoriamente produzido assim o exijam.<br />

Portanto, ao mesmo tempo que uma prática, to<strong>da</strong> cura é uma<br />

reflexão espontânea sobre si mesma, sobre a doença e sobre o<br />

relacio<strong>na</strong>mento que se estabelece entre ambas. O resultado disso não<br />

é mais, simplesmente, uma constatação, mas uma experiência; e a<br />

teoria médica ganha vi<strong>da</strong> numa tentativa. Algo, que logo se tor<strong>na</strong>rá o<br />

domínio clínico, começa a manifestar-se.<br />

Domínio onde a relação constante e recíproca entre teoria e<br />

prática se vê desdobra<strong>da</strong> num confronto imediato entre médico e<br />

paciente. Sofrimento e saber se ajustarão um ao outro <strong>na</strong> uni<strong>da</strong>de de<br />

uma experiência concreta. E esta exige uma linguagem comum, uma<br />

comunicação pelo menos imaginária entre o médico e o doente.<br />

Ora, é a respeito <strong>da</strong>s doenças nervosas que as curas do século<br />

XVIII conseguiram a maior quanti<strong>da</strong>de de modelos variados e se<br />

reforçaram como técnica privilegia<strong>da</strong> <strong>da</strong> medici<strong>na</strong>. Era como se, a<br />

este propósito, enfim se estabelecesse, de modo particularmente<br />

favorecido, essa troca entre a <strong>loucura</strong> e a medici<strong>na</strong> que o<br />

inter<strong>na</strong>mento, com obsti<strong>na</strong>ção, recusava.<br />

Nessas curas, logo julga<strong>da</strong>s fantasistas, <strong>na</strong>scia a possibili<strong>da</strong>de de<br />

uma psiquiatria <strong>da</strong> observação, de um inter<strong>na</strong>mento de aspecto<br />

hospitalar, e desse diálogo do louco com o médico que, de Pinel a<br />

Leuret, Charcot e Freud, assumirá tão estranhos vocabulários.<br />

Tentemos reconstruir algumas <strong>da</strong>s idéias terapêuticas que<br />

organizaram as curas <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

1. A consoli<strong>da</strong>ção. Há <strong>na</strong> <strong>loucura</strong>, mesmo sob suas formas mais<br />

agita<strong>da</strong>s, todo um componente de fraqueza. Se nela os espíritos se<br />

vêem submetidos a movimentos irregulares, é porque não têm força<br />

nem peso suficiente para seguir a gravi<strong>da</strong>de de seu curso <strong>na</strong>tural; se<br />

tantas vezes se encontram espasmos e convulsões nos males dos<br />

nervos, é que a fibra é demasiado móvel, ou demasiado irritável, ou<br />

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