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A história da loucura na idade clássica

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maioria rejeita a idéia dessa assistência maciça. Economistas e<br />

liberais consideram, antes, que um dever social é um dever do<br />

homem em socie<strong>da</strong>de, e não <strong>da</strong> própria socie<strong>da</strong>de. Para fixar as<br />

normas de assistência possíveis, é preciso portanto definir, no<br />

homem social, quais são a <strong>na</strong>tureza e os limites dos sentimentos de<br />

pie<strong>da</strong>de, de compaixão, de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que podem uni-lo a seus<br />

semelhantes. A teoria <strong>da</strong> assistência deve repousar sobre essa<br />

análise meio psicológica, meio moral, e não numa definição <strong>da</strong>s<br />

obrigações contratuais do grupo. Assim concebi<strong>da</strong>, a assistência não<br />

é uma estrutura do Estado, mas um elo pessoal que vai do homem ao<br />

homem.<br />

Discípulo de Turgot, Dupont de Nemours procura definir essa<br />

ligação que une um sofrimento a uma compaixão. O homem, quando<br />

sente uma dor, antes de mais <strong>na</strong><strong>da</strong> procura em si mesmo o alívio de<br />

seu mal; depois ele se queixa,<br />

começa a implorar a aju<strong>da</strong> de seus parentes e amigos, e estes o aju<strong>da</strong>m em<br />

virtude de uma tendência <strong>na</strong>tural que a compaixão introduz, menos ou mais,<br />

no coração de todos os homens 83 .<br />

Mas esta incli<strong>na</strong>ção é sem dúvi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mesma <strong>na</strong>tureza que a<br />

imagi<strong>na</strong>ção e a simpatia, segundo Hume; sua vivaci<strong>da</strong>de não é<br />

constante, seu vigor não é indefinido, ela não tem essa força<br />

inesgotável que lhe permitiria conduzir-se sempre com a mesma<br />

espontanei<strong>da</strong>de para com todos os homens, mesmo os<br />

desconhecidos. O limite <strong>da</strong> compaixão é logo alcançado, e não se<br />

pode pedir aos homens que esten<strong>da</strong>m sua pie<strong>da</strong>de "para além do<br />

termo onde os cui<strong>da</strong>dos e a fadiga que envolveriam lhes parecesse<br />

mais penosos do que a compaixão que sentem". Portanto, não é<br />

possível considerar a assistência como um dever absoluto que se<br />

imporia ao menor pedido do infeliz. Ela não pode ser <strong>na</strong><strong>da</strong> mais que o<br />

resultado de uma incli<strong>na</strong>ção moral, e é em termos de forças que se<br />

deve a<strong>na</strong>lisá-la. É possível deduzi-la de dois componentes: um,<br />

negativo, constituído pelo trabalho envolvido pelos cui<strong>da</strong>dos a <strong>da</strong>r (ao<br />

mesmo tempo a gravi<strong>da</strong>de do mal e a distância a percorrer: quanto<br />

a manter continuamente a ordem e a eqüi<strong>da</strong>de no emprego dos di- nheiros<br />

desti<strong>na</strong>dos aos pobres» (loc. cit., p. 129). Cf. CLAUDE CHEVALIER, Descríption<br />

des avantages d'une maison de santé, 1762; DULAURENT, Esaai sur les<br />

etablissement s nécessaires et les moins , dispendieux pour rendre le service<br />

<strong>da</strong>ns les hôpitaux vraiment utile d l'humanité 1787.<br />

83 DUPONT DE NEMOURS, Idées sur les secours d donner aux pauvres malades<br />

<strong>da</strong>ns une grande ville, 1786, pp. 10-11.<br />

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