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A história da loucura na idade clássica

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Deze<strong>na</strong>s de projetos tentam definir este novo lugar <strong>da</strong> pobreza 76 .<br />

Todos, ou quase todos, escolhem como ponto de parti<strong>da</strong> a distinção<br />

entre "pobres válidos" e "pobres doentes". Distinção bem antiga, mas<br />

que permanecera precária e muito vaga — e cujo único sentido era o<br />

de servir como princípio de classificação no interior do inter<strong>na</strong>mento.<br />

No século XVIII, essa distinção é redescoberta e encara<strong>da</strong> com rigor.<br />

Entre "pobre válido" e "pobre doente", a diferença não é mais ape<strong>na</strong>s<br />

o grau de miséria, mas de <strong>na</strong>tureza no miserável. O pobre que pode<br />

trabalhar é um elemento positivo <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de, ain<strong>da</strong> que se deixe de<br />

tirar proveito disso:<br />

O infortúnio pode ser considerado como um instrumento, como um poder,<br />

pois não subtrai as forças, e estas forças podem ser emprega<strong>da</strong>s em proveito<br />

do Estado, em proveito mesmo do indivíduo que é forçado a utilizá-las.<br />

Pelo contrário, o doente é peso morto, representa um elemento<br />

"passivo, inerte, negativo" e que intervém <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de ape<strong>na</strong>s a<br />

título de puro consumidor:<br />

A miséria é um peso que tem um preço; pode-se ligá-la a uma máqui<strong>na</strong>, ela a<br />

fará funcio<strong>na</strong>r; a doença é uma massa que não se pode apreender, e que só<br />

se pode agüentar ou deixar cair, que é sempre um obstáculo e nunca aju<strong>da</strong> 77 .<br />

Portanto, é preciso dissociar, <strong>na</strong> velha noção de hospitali<strong>da</strong>de,<br />

aquilo que era confusamente misturado: o elemento positivo <strong>da</strong><br />

indigência e o fardo <strong>da</strong> doença.<br />

Os pobres válidos deverão trabalhar, não sob coação, mas em<br />

ple<strong>na</strong> liber<strong>da</strong>de, isto é, ape<strong>na</strong>s sob a coação <strong>da</strong>s leis econômicas que<br />

76 Cf. alguns textos como SAVARIN Le Cri de l'humanité aux Êtats généraux, Paris,<br />

1789; MARCILLAC, Hôpitaux remplacés par des sociétés physiques, S.L.N.D.;<br />

COQUEAU, Essai sur l'établissement des hôpitaux <strong>da</strong>ns les grandes villes,<br />

Paris, 1787; RÉCALDE, Traité sur les obus qui subsistent <strong>da</strong>ns les hôpitaux,<br />

Paris, 1786. E inúmeros escritores anônimos: Précis des vues générales en<br />

faveur de ceux que n'ont riem Lons-le-Saulnier, 1789, seguido de Un moyen<br />

d'extirper la mendicité, Paris, 1789; Plaidoyer pour l'héritage du pauvre,<br />

Paris, 1790.<br />

Em 1777, a Academia de Châlons-sur-Marne havia proposto a premiação<br />

de estudos sobre «as causas <strong>da</strong> mendicância e os meios de extirpá-la». Mais<br />

de 100 ensaios lhe foram enviados. A Academia publicou um resumo deles,<br />

onde os meios de suprimir ou impedir a mendicância são indicados <strong>da</strong><br />

seguinte maneira: man<strong>da</strong>r os mendigos de volta para suas comuni<strong>da</strong>des,<br />

onde terão de trabalhar; suprimir a esmola pública; diminuir o número dos<br />

hospitais; reformar os que forem conservados; estabelecer montepios; fun<strong>da</strong>r<br />

ofici<strong>na</strong>s, reduzir o número <strong>da</strong>s testas abrir casas de força »para os que<br />

perturbarem a harmonia <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de» lei. BRISSOT DE WARVILLE, Théorie<br />

des lois criminelles, I, p. 261 nota 123).<br />

77 COQUEAU, loc. cit., pp. 23-24.<br />

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