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A história da loucura na idade clássica

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vastos hospitais cuja manutenção custa caro, se distribuísse<br />

diretamente auxílio às famílias dos doentes, haveria nisso uma<br />

tríplice vantagem. Em primeiro lugar, sentimental, porque vendo-o<br />

todo dia, a família não perde a pie<strong>da</strong>de real que sente pelo doente.<br />

Econômica, pois não será mais necessário <strong>da</strong>r a esse doente<br />

alojamento e alimentação, assegurados em sua casa. Médica, enfim,<br />

uma vez que, sem falar <strong>na</strong> meticulosi<strong>da</strong>de particular dos cui<strong>da</strong>dos<br />

que ele recebe, o doente não é afetado pelo espetáculo deprimente<br />

de um hospital, que todos encaram como "o templo <strong>da</strong> morte". A<br />

melancolia do espetáculo que o envolve, os contágios diversos, o<br />

afastamento de tudo o que lhe é caro agravam o sofrimento dos<br />

pacientes, e acabam por suscitar doenças que não se poderiam<br />

encontrar espontaneamente <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza porque são como que<br />

criações próprias do hospital. A situação do homem hospitalizado<br />

comporta doenças particulares, espécie de "hospitalismo" inicial, e o<br />

médico do hospital tem necessi<strong>da</strong>de de ser bem mais hábil para escapar aos<br />

perigos <strong>da</strong> falsa experiência que parece resultar <strong>da</strong>s doenças artificiais, às<br />

quais deve dispensar seus cui<strong>da</strong>dos nos hospitais. Com efeito, nenhuma<br />

doença de hospital é pura 84 .<br />

Assim como o inter<strong>na</strong>mento acaba sendo criador de pobreza, o<br />

hospital é criador de doenças.<br />

O lugar <strong>na</strong>tural <strong>da</strong> cura não é o hospital, é a família, pelo menos<br />

o meio imediato do doente. E assim como a pobreza deve ser<br />

elimi<strong>na</strong><strong>da</strong> pela livre circulação <strong>da</strong> mão-de-obra, a doença deve<br />

desaparecer nos cui<strong>da</strong>dos que o meio <strong>na</strong>tural do homem pode<br />

dispensar-lhe de modo espontâneo:<br />

A própria socie<strong>da</strong>de, a fim de exercer uma ver<strong>da</strong>deira cari<strong>da</strong>de, deve<br />

empregá-la o menos possível e, tanto quanto possa depender dela, fazer uso<br />

<strong>da</strong>s forças particulares <strong>da</strong>s famílias e dos indivíduos 85 .<br />

São essas forças particulares que são solicita<strong>da</strong>s e que se tenta<br />

organizar ao fi<strong>na</strong>l do século XVIII 86 . Na Inglaterra, uma lei de 1722<br />

proibia to<strong>da</strong> forma de auxílio a domicílio: o indigente doente devia ser<br />

conduzido ao hospital onde se tor<strong>na</strong>ria, de modo anônimo, objeto <strong>da</strong><br />

84 DUPONT DE NEMOURS, op. cit., pp. 10-11.<br />

85 Idem, p. 113.<br />

86 A pedido de Turgot, Brienne realiza uma pesquisa <strong>na</strong> região de Toulouse. Suas<br />

conclusões são redigi<strong>da</strong>s em 1775 e li<strong>da</strong>s em Montigny. Ele recomen<strong>da</strong> o<br />

socorro a domicílio, mas também a criação de hospícios para certas categorias<br />

como a dos loucos. B.N. Fonds francais, 8129, f. 244-287.<br />

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