15.10.2013 Views

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

E Heinroth dizia, no mesmo sentido, que a <strong>loucura</strong> é <strong>da</strong>s Base<br />

überhaupt.<br />

3. A inocência do louco é garanti<strong>da</strong> pela intensi<strong>da</strong>de e pela força<br />

desse conteúdo psicológico. Acorrentado pela força de suas paixões,<br />

arrebatado pela vivaci<strong>da</strong>de dos desejos e <strong>da</strong>s imagens, o louco se<br />

tor<strong>na</strong> irresponsável; e sua irresponsabili<strong>da</strong>de é assunto de apreciação<br />

médica, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> mesma em que resulta de um determinismo<br />

objetivo. A <strong>loucura</strong> de um ato se mede pelo número de razões que o<br />

determi<strong>na</strong>ram.<br />

— Mas a <strong>loucura</strong> de um ato é julga<strong>da</strong> precisamente pelo fato de<br />

que nenhuma razão jamais chega a esgotá-la. A ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>loucura</strong><br />

está num automatismo sem cadeias; e quanto mais um ato for vazio<br />

de razão, mais possibili<strong>da</strong>des terá de <strong>na</strong>scer no determinismo ape<strong>na</strong>s<br />

<strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, a ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> sendo, no homem, a ver<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>quilo que é sem razão, <strong>da</strong>quilo que só se produz, como dizia Pinel,<br />

"por uma determi<strong>na</strong>ção irrefleti<strong>da</strong>, sem interesse e sem motivo".<br />

4. Dado que <strong>na</strong> <strong>loucura</strong> o homem descobre sua ver<strong>da</strong>de, é a<br />

partir de sua ver<strong>da</strong>de e do fundo mesmo de sua <strong>loucura</strong> que uma<br />

cura é possível, Existe, <strong>na</strong> não-razão <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, a razão do retorno;<br />

e se, <strong>na</strong> objetivi<strong>da</strong>de infeliz em que se perde o louco, ain<strong>da</strong><br />

permanece um segredo, esse segredo é aquele que tor<strong>na</strong> possível a<br />

cura. Assim como a doença não é a per<strong>da</strong> completa <strong>da</strong> saúde, do<br />

mesmo modo a <strong>loucura</strong> não é "per<strong>da</strong> abstrata <strong>da</strong> razão", mas<br />

"contradição <strong>na</strong> razão que ain<strong>da</strong> existe" e, por conseguinte,<br />

o tratamento humano, isto é, tão benévolo quanto razoável, <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>...<br />

pressupõe o doente razoável e vê nisso um ponto sólido para considerá-lo<br />

sob esse aspecto 12 .<br />

— Mas a ver<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong> que descobre a <strong>loucura</strong> é a imediata<br />

contradição <strong>da</strong>quilo que é a ver<strong>da</strong>de moral e social do homem. O<br />

momento inicial de todo tratamento será portanto a repressão dessa<br />

ver<strong>da</strong>de i<strong>na</strong>dmissível, a abolição do mal que ali impera, o<br />

esquecimento dessas violências e desses desejos. A cura do louco<br />

está <strong>na</strong> razão do outro — sua própria razão sendo ape<strong>na</strong>s a ver<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> <strong>loucura</strong>:<br />

11 HEGEL, loc. cit., § 408 Zusatz.<br />

12 HEGEL, ibid.<br />

565

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!