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A história da loucura na idade clássica

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diferentes remédios sugeridos por seu bom senso e pela experiência<br />

de seus antecessores. Mas logo se desapontou, não porque os<br />

resultados fossem maus, ou o número de curas mínimo:<br />

Mas os meios médicos estavam tão imperfeitamente ligados ao<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> cura, que não pôde impedir-se de suspeitar que eram<br />

antes fatos concomitantes à cura e não sua causa 73 .<br />

Deu-se conta de que havia pouco a fazer com os métodos até<br />

então conhecidos. A preocupação de humani<strong>da</strong>de prevaleceu nele, e<br />

decidiu não utilizar medicamento algum que fosse muito<br />

desagradável para o doente. Mas não se deve crer que o papel do<br />

médico tinha pouca importância no Retiro: pelas visitas que<br />

regularmente faz aos doentes, pela autori<strong>da</strong>de que exerce <strong>na</strong> casa e<br />

que o coloca acima de todos os vigilantes, "o médico tem, sobre o<br />

espírito dos doentes, uma influência maior que a de to<strong>da</strong>s as outras<br />

pessoas que devem zelar por eles" 74 .<br />

Acredita-se que Tuke e Pinel abriram o asilo ao conhecimento<br />

médico. Não introduziram uma ciência, mas uma perso<strong>na</strong>gem, cujos<br />

poderes atribuíam a esse saber ape<strong>na</strong>s um disfarce ou, no máximo,<br />

sua justificativa. Esses poderes, por <strong>na</strong>tureza, são de ordem moral e<br />

social; estão enraizados <strong>na</strong> minori<strong>da</strong>de do louco, <strong>na</strong> alie<strong>na</strong>ção de sua<br />

pessoa, e não de seu espírito. Se a perso<strong>na</strong>gem do médico pode<br />

delimitar a <strong>loucura</strong>, não é porque a conhece, é porque a domi<strong>na</strong>; e<br />

aquilo que para o positivismo assumirá a figura <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de é<br />

ape<strong>na</strong>s o outro lado, o <strong>na</strong>scimento desse domínio.<br />

É muito importante ganhar a confiança desses enfermos e provocar neles<br />

sentimentos de respeito e obediência, o que só pode ser fruto <strong>da</strong><br />

superiori<strong>da</strong>de do discernimento, de uma educação distinta e <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de<br />

no tom e <strong>na</strong>s maneiras. A tolice, a ignorância e a falta de princípios,<br />

sustentados por uma firmeza tirânica, podem provocar o temor, mas<br />

sempre inspiram desprezo. O vigilante de um hospício de alie<strong>na</strong>dos que<br />

conseguiu ascendência sobre eles dirige e regulamenta seus<br />

comportamentos à vontade; deve ser dotado de um caráter firme e<br />

ostentar <strong>na</strong> ocasião um aparelho imponente de seu poder. Deve ameaçar<br />

pouco, mas executar, e, se for desobedecido, a punição deve vir de<br />

imediato 75 .<br />

O médico só pôde exercer sua autori<strong>da</strong>de absoluta sobre o<br />

mundo asilar <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que, desde o começo, foi Pai e Juiz,<br />

73 S. TUKE, loc. cit., pp. 110-111.<br />

74 S. TUKE, op. cit., p. 115.<br />

75 HASLAM, Observations on insanity with practical remarks on this disease,<br />

Londres, 1798, cit. por PINEL, op. cit., pp. 253-254.<br />

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