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A história da loucura na idade clássica

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Que sua razão seja a regra de conduta deles. Uma única cor<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> vibra<br />

neles, a <strong>da</strong> dor; tenham coragem suficiente para tocá-la 13 .<br />

Portanto, o homem não dirá o ver<strong>da</strong>deiro de sua ver<strong>da</strong>de a não<br />

ser <strong>na</strong> cura que o conduzirá de sua ver<strong>da</strong>de alie<strong>na</strong><strong>da</strong> à ver<strong>da</strong>de do<br />

homem:<br />

O alie<strong>na</strong>do mais violento e mais temível se tornou, por vias suaves e<br />

conciliatórias, o homem mais dócil e mais digno de interesse por uma<br />

sensibili<strong>da</strong>de tocante 14 .<br />

Incansavelmente retoma<strong>da</strong>s, essas antinomias acompanharão,<br />

durante todo o século XIX, a reflexão sobre a <strong>loucura</strong>. Na imediata<br />

totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> experiência poética e no reconhecimento lírico <strong>da</strong><br />

<strong>loucura</strong>, elas já estavam lá, sob a forma indivisa de uma duali<strong>da</strong>de<br />

reconcilia<strong>da</strong> consigo mesma, desde que <strong>da</strong><strong>da</strong>; eram desig<strong>na</strong><strong>da</strong>s, mas<br />

<strong>na</strong> curta felici<strong>da</strong>de de uma linguagem ain<strong>da</strong> não compartilha<strong>da</strong>, como<br />

o nó do mundo e do desejo, do sentido e não-sentido, <strong>da</strong> noite do fim<br />

e <strong>da</strong> primitiva aurora. Para a reflexão, pelo contrário, essas<br />

antinomias só se <strong>da</strong>rão no ponto extremo <strong>da</strong> dissociação; nesse<br />

momento, assumirão suas medi<strong>da</strong>s e suas distâncias; serão<br />

experimenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> lentidão <strong>da</strong> linguagem dos contraditórios. O que<br />

era o equívoco de uma experiência fun<strong>da</strong>mental e constitutiva <strong>da</strong><br />

<strong>loucura</strong> se perderá rapi<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> rede dos conflitos teóricos sobre a<br />

interpretação a <strong>da</strong>r aos fenômenos <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

Conflito entre uma concepção histórica, sociológica, relativista <strong>da</strong><br />

<strong>loucura</strong> (Esquirol, Michea) e uma análise de tipo estrutural a<strong>na</strong>lisando<br />

a doença mental como uma involução, uma degenerescência e um<br />

progressivo deslizamento <strong>na</strong> direção do ponto zero <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza<br />

huma<strong>na</strong> (Morei); conflito entre uma teoria espiritualista, que define a<br />

<strong>loucura</strong> como uma alteração <strong>da</strong> relação do espírito consigo próprio<br />

(Langermann, Heinroth) e um esforço materialista para situar a<br />

<strong>loucura</strong> num espaço orgânico diferenciado (Spurzheim, Broussais);<br />

conflito entre a exigência de um juízo médico que mediria a<br />

irresponsabili<strong>da</strong>de do louco pelo<br />

grau de determi<strong>na</strong>ção dos mecanismos em atuação nele e a<br />

apreciação imediata do caráter insensato de seu comportamento<br />

(polêmica entre Élias Rég<strong>na</strong>ult e Marc); conflito entre uma concepção<br />

humanitária <strong>da</strong> terapêutica, à maneira de Esquirol, e o uso dos<br />

13 LEURET, Du traitement moral de Ia folie, Paris, 1840.<br />

14 PINEL, Traité médico-philosophique, p. 214.<br />

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