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A história da loucura na idade clássica

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voltar a uma comunhão <strong>da</strong> qual se foi expulso pelo pecado. Portanto,<br />

não é possível ser admitido no bairro do "grande mal" sem um<br />

atestado: não um bilhete de confissão, mas um certificado de<br />

punição. Assim decidiu, após deliberar, o bureau do Hospital Geral<br />

em 1679:<br />

Todos os acometidos pela doença venérea somente serão recebidos sob a<br />

condição de se sujeitarem à correção, antes de mais <strong>na</strong><strong>da</strong>, e chicoteados, o<br />

que será certificado com a nota de envio 7 .<br />

No princípio, os doentes venéreos tinham sido tratados do<br />

mesmo modo que as vítimas dos outros grandes males — tais como<br />

"a fome, a peste e as outras pragas" — a respeito dos quais<br />

Maximiliano dizia, <strong>na</strong> Dieta de Worms, em 1495, que tinham sido<br />

enviados por Deus para castigo dos homens. Castigo que tinha um<br />

valor universal e que não sancio<strong>na</strong>va nenhuma imorali<strong>da</strong>de em<br />

particular. Em Paris, os atingidos pelo "mal de Nápoles" eram<br />

recebidos no Hôtel-Dieu; como em todos os outros hospitais do<br />

mundo católico, eram taxados ape<strong>na</strong>s com uma pura e simples<br />

confissão: e com isso sua sorte era a mesma <strong>da</strong> de qualquer outro<br />

doente. É ao fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> Re<strong>na</strong>scença que se começa a vê-los com novos<br />

olhos. A acreditar em Thierry de Héry, nenhuma causa geralmente<br />

alega<strong>da</strong>, nem o ar poluído, tampouco a infecção <strong>da</strong>s águas, podem<br />

explicar semelhante doença:<br />

Portanto, devemos atribuir sua origem à indig<strong>na</strong>ção e permissão do criador e<br />

provedor de to<strong>da</strong>s as coisas, o qual para referir à volúpia demasiado lasciva,<br />

petulante e libidinosa dos homens, permitiu que tal doença imperasse entre<br />

eles, como vingança e punição pelo enorme pecado <strong>da</strong> luxúria. Foi assim que<br />

Deus ordenou a Moisés que jogasse pólvora ao ar <strong>na</strong> presença do Faraó a fim<br />

de que em to<strong>da</strong> a terra do Egito os homens e outros animais ficassem<br />

cobertos por apóstemas 8 .<br />

Havia mais de 200 doentes desse tipo no Hôtel-Dieu quando se<br />

decidiu excluí-los de lá, por volta de 1590. E ei-los proscritos,<br />

partindo para um exílio que não é em absoluto um isolamento<br />

terapêutico, mas sim uma segregação. De início, são abrigados perto<br />

de Notre-Dame em alguns casebres de madeira. Depois exilam-nos<br />

para os limites <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, em Saint-Germain-des-Prés; mas custam<br />

muito caro e fazem desordens. São novamente admitidos, não sem<br />

dificul<strong>da</strong>des, <strong>na</strong>s salas do Hôtel-Dieu, até que enfim encontram asilo<br />

7 Deliberação do Hospital Geral. Histoire de !'Hôpital Gínéral.<br />

8 THIERRY DE HÉRY, La méthode curative de Ia maladie venerienne, 1569. PP. 3 e<br />

4.<br />

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