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A história da loucura na idade clássica

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Há aí to<strong>da</strong> uma reabilitação moral do Pobre, que desig<strong>na</strong>, mais<br />

profun<strong>da</strong>mente, uma reintegração econômica e social de sua<br />

perso<strong>na</strong>gem. Na economia mercantilista, não sendo nem produtor<br />

nem consumidor, o Pobre não tinha lugar: ocioso, vagabundo,<br />

desempregado, sua esfera era a do, inter<strong>na</strong>mento, medi<strong>da</strong> com a<br />

qual era exilado e como que abstraído <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Com a indústria<br />

<strong>na</strong>scente, que tem necessi<strong>da</strong>de de braços, faz parte novamente do<br />

corpo <strong>da</strong> <strong>na</strong>ção.<br />

Assim, o pensamento econômico elabora sobre novas bases a<br />

noção de Pobreza. Houvera antes to<strong>da</strong> a tradição cristã para a qual o<br />

que tinha uma existência real e concreta, uma presença de carne, era<br />

o Pobre: rosto sempre individual <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de, a passagem<br />

simbólica do Deus feito homem. A abstração do inter<strong>na</strong>mento havia<br />

afastado o Pobre, confundindo-o com outras figuras, envolvendo-o<br />

numa consideração ética, mas não havia dissociado seus traços. O<br />

século XVIII descobre que "os Pobres" não existem como reali<strong>da</strong>de<br />

concreta e última; que neles se confundiu, durante tempo demais,<br />

duas reali<strong>da</strong>des de <strong>na</strong>tureza diferente.<br />

De um lado há a Pobreza: rarefação dos gêneros alimentícios,<br />

situação econômica liga<strong>da</strong> ao estado do comércio, <strong>da</strong> agricultura, <strong>da</strong><br />

indústria. Do outro, há a População: não um elemento passivo<br />

submetido às flutuações <strong>da</strong> riqueza, mas força que faz parte, e<br />

diretamente, <strong>da</strong> situação econômica, do movimento produtor de<br />

riquezas, uma vez que é o trabalho do homem que a cria, ou pelo<br />

menos a transmite, desloca e multiplica. O "Pobre" era uma noção<br />

confusa, onde se misturavam essa riqueza que é o Homem e o<br />

Estado de Necessi<strong>da</strong>de que se reconhece como essencial para a<br />

humani<strong>da</strong>de. De fato, entre Pobreza e População há uma relação<br />

rigorosamente inversa.<br />

Fisiocratas e economistas concor<strong>da</strong>m a esse respeito. A<br />

população é, em si mesma, um dos elementos <strong>da</strong> riqueza; ela<br />

constitui mesmo a fonte certa e inesgotável <strong>da</strong> riqueza. Para Ques<strong>na</strong>y<br />

e seus discípulos, o homem é a mediação essencial <strong>da</strong> terra à<br />

riqueza:<br />

Aquilo que o homem valer, valerá a terra, diz um provérbio bem sensato. Se<br />

o homem é uma nuli<strong>da</strong>de, a terra também o será. Com homens, duplica-se a<br />

terra que se tem, desbravam-se terras, adquirem-se terras. Só Deus soube<br />

como tirar um homem <strong>da</strong> terra, mas por to<strong>da</strong> parte sempre se soube como<br />

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