15.10.2013 Views

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

imaginária <strong>da</strong> Re<strong>na</strong>scença; e nela, logo ocupará lugar privilegiado: é<br />

a Nau dos Loucos, estranho barco que desliza ao longo dos calmos<br />

rios <strong>da</strong> Renânia e dos ca<strong>na</strong>is flamengos.<br />

A Narrenschiff é, evidentemente, uma composição literária,<br />

empresta<strong>da</strong> sem dúvi<strong>da</strong> do velho ciclo dos argo<strong>na</strong>utas, recentemente<br />

ressuscitado entre os grandes temas míticos e ao lado de Blauwe<br />

Schute de Jacob Van Oestvoren em 1413, de Borgonha. A mo<strong>da</strong> é a<br />

composição dessas Naus cuja equipagem e heróis imaginários,<br />

modelos éticos ou tipos sociais, embarcam para uma grande viagem<br />

simbólica que lhes traz, senão a fortu<strong>na</strong>, pelo menos a figura de seus<br />

destinos ou suas ver<strong>da</strong>des. É assim que Symphorien Champier<br />

compõe sucessivamente uma Nau dos Príncipes e <strong>da</strong>s Batalhas <strong>da</strong><br />

Nobreza em 1502, depois uma Nau <strong>da</strong>s Damas Virtuosas em 1503.<br />

Existe também uma Nau <strong>da</strong> Saúde, ao lado de Blauwe Schute de<br />

Jacop van Oestvoren em 1413, <strong>da</strong> Narrenschiff de Brant (1497) e <strong>da</strong><br />

obra de Josse Bade: Stultiferae erae <strong>na</strong>viculae scaphae fatuarum<br />

mulierum (1498) . O quadro de Bosch, evidentemente, pertence a<br />

essa on<strong>da</strong> onírica.<br />

Mas de to<strong>da</strong>s essas <strong>na</strong>ves romanescas ou satíricas, a<br />

Narrenschiff é a única que teve existência real, pois eles existiram,<br />

esses barcos que levavam sua carga insa<strong>na</strong> de uma ci<strong>da</strong>de para<br />

outra. Os loucos tinham então uma existência facilmente errante. As<br />

ci<strong>da</strong>des escorraçavam-nos de seus muros; deixava-se que corressem<br />

pelos campos distantes, quando não eram confiados a grupos de<br />

mercadores e peregrinos. Esse costume era freqüente<br />

particularmente <strong>na</strong> Alemanha: em Nuremberg, durante a primeira<br />

metade do século XV, registrou-se a presença de 62 loucos, 31 dos<br />

quais foram escorraçados. Nos cinqüenta anos que se seguiram, têm-<br />

se vestígios ain<strong>da</strong> de 21 parti<strong>da</strong>s obrigatórias, tratando-se aqui<br />

ape<strong>na</strong>s de loucos detidos pelas autori<strong>da</strong>des municipais 23 . Eram<br />

freqüentemente confiados a barqueiros: em Frankfurt, em 1399,<br />

encarregam-se marinheiros de livrar a ci<strong>da</strong>de de um louco que por<br />

ela passeava nu; nos primeiros anos do século XV, um criminoso<br />

louco é enviado do mesmo modo a Mayence. Às vezes, os<br />

marinheiros deixavam em terra, mais cedo do que haviam prometido,<br />

esses passageiros incômodos; prova disso é o ferreiro de Frankfurt<br />

que partiu duas vezes e duas vezes voltou, antes de ser reconduzido<br />

23 T. KIRCHHOFF, Geschichte der Psychiatrie, Leipzig, 1912.<br />

13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!