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A história da loucura na idade clássica

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coisa que uma correção (isto é, a supressão <strong>da</strong> diferença ou a<br />

realização desse <strong>na</strong><strong>da</strong> que é a <strong>loucura</strong> <strong>na</strong> morte). Donde esses<br />

desejos de morrer que se encontram tão freqüentemente nos<br />

registros do inter<strong>na</strong>mento sob a pe<strong>na</strong> dos guardiães e que não são,<br />

para o inter<strong>na</strong>mento, signo de selvageria, desumani<strong>da</strong>de ou<br />

perversão, mas estrito enunciado de seu sentido: uma operação de<br />

aniquilamento do <strong>na</strong><strong>da</strong> 76 . O inter<strong>na</strong>mento desenha, <strong>na</strong> superfície dos<br />

fenômenos e numa síntese moral apressa<strong>da</strong>, a estrutura secreta e<br />

distinta <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

É o inter<strong>na</strong>mento que enraíza suas práticas nesta intuição<br />

profun<strong>da</strong>? É pelo fato de a <strong>loucura</strong>, sob o efeito do inter<strong>na</strong>mento, ter<br />

realmente desaparecido do horizonte clássico que ela foi, afi<strong>na</strong>l,<br />

delimita<strong>da</strong> como não-ser? Perguntas cujas respostas remetem-se<br />

uma às outras numa circulari<strong>da</strong>de perfeita. Ê sem dúvi<strong>da</strong> inútil<br />

perder-se no ciclo dessas formas de interrogação, ciclo que sempre<br />

recomeça. Melhor deixar a cultura <strong>clássica</strong> formular, em sua estrutura<br />

geral, a experiência que teve <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, e que aflora com as<br />

mesmas significações, <strong>na</strong> ordem idêntica de sua lógica inter<strong>na</strong>, aqui e<br />

ali, <strong>na</strong> ordem <strong>da</strong> especulação e <strong>na</strong> ordem <strong>da</strong> instituição, no discurso e<br />

no decreto, <strong>na</strong> palavra e <strong>na</strong> palavra de ordem -por to<strong>da</strong> parte onde<br />

um elemento portador de signo pode assumir, para nós, valor de<br />

linguagem.<br />

76 Cf. por exemplo anotações como esta, a respeito de .um louco inter<strong>na</strong>do em<br />

Saint-Lazare havia 17 anos: «Sua saúde debilitou-se muito, pode-se esperar<br />

que logo morrerá» (B. N. Clairambault. 986, f. 113).<br />

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