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A história da loucura na idade clássica

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confuso — tanto esse desaparecimento <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> permanece<br />

ambíguo — magistrados, juristas, médicos e simplesmente homens<br />

experimentados:<br />

Essa é a razão pela qual os lugares onde os loucos são mantidos devem ser<br />

continuamente submetidos à inspeção <strong>da</strong>s diferentes magistraturas e à<br />

vigilância especial <strong>da</strong> polícia.<br />

Quando um louco é levado para um lugar de detenção,<br />

sem per<strong>da</strong> de tempo será observado sob todos os aspectos, será submetido a<br />

exame por oficiais <strong>da</strong> saúde, será vigiado por pessoas <strong>da</strong> polícia <strong>da</strong>s mais<br />

inteligentes e mais habitua<strong>da</strong>s a observar a <strong>loucura</strong> em to<strong>da</strong>s as suas<br />

varie<strong>da</strong>des 31 .<br />

O inter<strong>na</strong>mento deverá representar como que uma espécie de<br />

medi<strong>da</strong> permanente <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, reajustando-se incessantemente à<br />

sua ver<strong>da</strong>de móvel, só coagindo ali e no limite em que a liber<strong>da</strong>de se<br />

alie<strong>na</strong>:<br />

A humani<strong>da</strong>de, a justiça e a boa medici<strong>na</strong> orde<strong>na</strong>m que se encerrem ape<strong>na</strong>s<br />

os loucos que podem de fato prejudicar os outros; de manter amarrados<br />

ape<strong>na</strong>s aqueles que, sem isso, se prejudicariam a si mesmos.<br />

A justiça que imperará no asilo não será mais a <strong>da</strong> punição, mas<br />

a <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de: uma certa exatidão no uso <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s<br />

restrições, uma conformi<strong>da</strong>de tão rigorosa quanto possível <strong>da</strong> coação<br />

à alie<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. E a forma concreta dessa justiça, bem como<br />

seu símbolo visível, se encontram não mais <strong>na</strong> corrente — restrição<br />

absoluta e punitiva, que sempre "mata as partes que prende" — mas<br />

<strong>na</strong>quilo que ia tor<strong>na</strong>r-se a famosa camisola, esse "colete estreito de<br />

brim ou lo<strong>na</strong> forte que amarra e prende os braços" 32 e que deve<br />

incomo<strong>da</strong>r tanto mais quanto mais violentos forem os movimentos<br />

feitos. Não se deve conceber a camisola como a humanização <strong>da</strong>s<br />

correntes e um progresso <strong>na</strong> direção do self-restraint. Há to<strong>da</strong> uma<br />

dedução conceitual <strong>da</strong> camisa-de-força 33 que mostra que <strong>na</strong> <strong>loucura</strong><br />

não se faz mais a experiência de um confronto absoluto entre a razão<br />

e o desatino, mas a de um jogo sempre relativo, sempre móvel, entre<br />

a liber<strong>da</strong>de e seus limites.<br />

31 CABANIS, op. cit., p. 53.<br />

32 Idem, ibid., p. 57.<br />

33 Tenon apreciava bastante essa espécie de camisa, <strong>da</strong> qual vira uma em Saint-<br />

Luke: «Se se teme que o louco venha a ferir-se ou prejudicar aos demais.<br />

prendem-se seus braços com a aju<strong>da</strong> de mangas longas amarra<strong>da</strong>s atrás <strong>da</strong>s<br />

costas> , Projet de rapport au nom du comité des secours, f. 232.<br />

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