15.10.2013 Views

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

século XVIII, Audin Rouvière explica como<br />

a epilepsia, os humores frios, a paralisia entram <strong>na</strong> casa de Bicêtre; mas... não<br />

se tenta a cura desses males com remédio algum... Assim é que uma criança<br />

de dez a doze anos, admiti<strong>da</strong> várias vezes nessa casa com convulsões<br />

nervosas que se consideram epiléticas, no meio de ver<strong>da</strong>deiros epiléticos,<br />

acaba pegando a doença <strong>da</strong> qual não está acometi<strong>da</strong>, e <strong>na</strong> longa carreira que<br />

sua i<strong>da</strong>de lhe abre não tem outra esperança de cura além dos esforços<br />

raramente completos <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza.<br />

Quanto aos loucos, eles<br />

são considerados incuráveis quando chegam a Bicêtre e lá não recebem<br />

tratamento algum... Apesar <strong>da</strong> nuli<strong>da</strong>de do tratamento dos loucos... vários<br />

deles recobram a razão 9 .<br />

De fato, essa ausência de cui<strong>da</strong>dos médicos, exceção feita à<br />

visita prescrita, põe o Hospital Geral quase <strong>na</strong> mesma situação de<br />

uma prisão. As regras nele impostas são em suma aquelas que a<br />

orde<strong>na</strong>ção crimi<strong>na</strong>l de 1670 prescreve para a boa ordem de to<strong>da</strong>s as<br />

casas de detenção:<br />

Queremos que as prisões sejam seguras e dispostas de modo que a saúde dos<br />

prisioneiros não seja incomo<strong>da</strong><strong>da</strong>. Encarecemos aos carcereiros que visitem os<br />

prisioneiros fechados <strong>na</strong>s celas pelo menos uma vez por dia, e avisem nossos<br />

procuradores sobre aqueles que estiverem doentes para que sejam visitados<br />

pelos médicos e cirurgiões <strong>da</strong>s prisões, se houver 10 .<br />

Se há um médico no Hospital Geral, não é porque se tem<br />

consciência de que aí são inter<strong>na</strong>dos doentes, é porque se teme a<br />

doença <strong>na</strong>queles que já estão inter<strong>na</strong>dos. Teme-se a famosa "febre<br />

<strong>da</strong>s prisões". Na Inglaterra, gostavam de citar o caso de prisioneiros<br />

que tinham contami<strong>na</strong>do seus juízes durante as sessões do tribu<strong>na</strong>l;<br />

lembrava-se que os internos, após a libertação, haviam transmitido a<br />

suas famílias o mal contraído <strong>na</strong>s prisões 11 :<br />

Existem exemplos, assegura Howard, desses efeitos funestos sobre os homens<br />

acumulados em antros ou torres, onde o ar não pode ser renovado... Esse ar<br />

putrefato pode corromper o coração de um tronco de carvalho, onde ele só<br />

penetra através <strong>da</strong> casca e <strong>da</strong> madeira 12 .<br />

Os cui<strong>da</strong>dos médicos são enxertados à prática do inter<strong>na</strong>mento a<br />

9 AUDIN ROUVIÈRE, Essai sur la topographie physique et médicale de Paris.<br />

Dissertação sobre as substâncias que podem influir sobre a saúde dos<br />

habitantes desta ci<strong>da</strong>de, Paris, Ano II, pp. 105-107.<br />

10 Título XIII, in ISAMBERT, Recueil des anciennes bois, Paris, 1821-1833, X, VIII,<br />

p. 393.<br />

11 To<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de de Axminster, no Devonshire, teria sido contami<strong>na</strong><strong>da</strong> desse modo<br />

no sêculo XVIII.<br />

12 HOWARD, loc. cit., I, p. 14.<br />

128

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!