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A história da loucura na idade clássica

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erro, parece que o número dos loucos segue uma curva bastante<br />

particular: nem a <strong>da</strong> demografia, nem tampouco, totalmente, a dos<br />

inter<strong>na</strong>mentos. Nos primeiros anos <strong>da</strong> Salpêtrière, se for levantado o<br />

total <strong>da</strong>s mulheres encerra<strong>da</strong>s nos pavilhões <strong>da</strong> Magdeleine, de Saint-<br />

Levèze, de Saint-Hilaire, de Sainte-Catherine, de Sainte-Elizabeth,<br />

bem como <strong>na</strong>s prisões, tem-se o total de 479 pessoas, <strong>da</strong>s quais se<br />

pode dizer, grosso modo, que são considera<strong>da</strong>s como alie<strong>na</strong><strong>da</strong>s 6 .<br />

Quando Tenon procede à sua investigação em 1787, encontra<br />

600 loucas, e La Rochefoucauld-Liancourt, 550. O movimento é mais<br />

ou menos o mesmo em Bicêtre: em 1726, há 132 "loucos, violentos,<br />

inocentes". Em 1789, há 187 homens encerrados em Saint-Prix, que<br />

é o lugar reservado aos loucos 7 . E é em 1788 que se atinge o<br />

máximo: 110 entra<strong>da</strong>s de insensatos em 1785, 127 em 1786, 151<br />

em 1788 e a seguir, para os próximos anos, 132, 103 e 127. Temos,<br />

portanto, uma subi<strong>da</strong> bastante lenta do número de loucos — pelo<br />

menos dos internos reconhecidos e etiquetados como tais — ao longo<br />

do. século XVIII, um ponto máximo por volta dos anos 1785-1788 e<br />

depois uma baixa brutal a partir do início <strong>da</strong> Revolução.<br />

O desenvolvimento dessa curva não deixa de ser estranho. Não<br />

ape<strong>na</strong>s não segue exatamente a evolução dos inter<strong>na</strong>mentos, nem o<br />

crescimento <strong>da</strong> população, como também não parece responder à<br />

rápi<strong>da</strong> ascensão do receio que suscitaram no século XVIII to<strong>da</strong>s as<br />

formas de <strong>loucura</strong> e desatino. Sem dúvi<strong>da</strong>, não se deve considerar<br />

esses números como um <strong>da</strong>do isolado; é provável que a consciência<br />

de um aumento <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> não estivesse liga<strong>da</strong> à intensi<strong>da</strong>de dos<br />

meios de inter<strong>na</strong>mento, mas que dependesse antes do número de<br />

loucos que não estavam encerrados e que um misto de solicitude e<br />

negligência deixava circular livremente: a descoberta dos vapores,<br />

dos males de nervos, a importância adquiri<strong>da</strong> pelas afecções<br />

histéricas e hipocondríacas fizeram mais por esse medo do que o<br />

próprio inter<strong>na</strong>mento. Mas aquilo que talvez tenha <strong>da</strong>do seu estilo tão<br />

particular à curva de evolução do inter<strong>na</strong>mento dos loucos foi a<br />

intervenção de um fato novo que explica a relativa estag<strong>na</strong>ção dos<br />

números quando comparados com a rápi<strong>da</strong> ascensão do medo que<br />

lhes é contemporâneo. O que influiu sobre esses números, e que<br />

6 Uma vez que esses lugares são os reservados às mulheres com mente Infantil, L<br />

fracas de espírito, às loucas a intervalos e às loucas violentas.<br />

7 Coseno <strong>na</strong>tio<strong>na</strong>le, 21.12.1789, n. 121.<br />

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