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A história da loucura na idade clássica

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egular — mais exatamente, periódico: os grandes medicamentos são<br />

aplicados ape<strong>na</strong>s uma vez por ano, e em todos ao mesmo tempo, <strong>na</strong><br />

época <strong>da</strong> primavera. T. Monro, médico de Bethleem desde 1783,<br />

traçou as linhas gerais de sua prática para a Comissão de Inquérito<br />

<strong>da</strong>s Comu<strong>na</strong>s:<br />

Os doentes devem ser sangrados o mais tar<strong>da</strong>r até o fim do mês de maio,<br />

conforme o tempo que fizer; após a sangria, devem tomar vomitórios uma vez<br />

por sema<strong>na</strong>, durante um certo número de sema<strong>na</strong>s. Após o quê, os purgamos.<br />

Isso foi praticado durante anos antes de mim, e me foi transmitido por meu<br />

pai; não conheço prática melhor 7 .<br />

Seria falso considerar que o inter<strong>na</strong>mento dos insanos nos<br />

séculos XVII e XVIII seja uma medi<strong>da</strong> de polícia que não se coloca<br />

problemas, ou que pelo menos manifesta uma insensibili<strong>da</strong>de<br />

uniforme ao caráter patológico <strong>da</strong> alie<strong>na</strong>ção. Mesmo <strong>na</strong> prática<br />

monóto<strong>na</strong> do inter<strong>na</strong>mento, a <strong>loucura</strong> tem uma função varia<strong>da</strong>. Ela já<br />

periclita no interior desse mundo do desatino que a envolve em seus<br />

muros e a obse<strong>da</strong> com sua universali<strong>da</strong>de. Pois se é fato que, em<br />

certos hospitais, os loucos têm lugar reservado, o que lhes assegura<br />

uma condição quase médica, a maior parte deles reside em casas de<br />

inter<strong>na</strong>mento, nelas levando praticamente uma existência de<br />

correcio<strong>na</strong>is.<br />

Por mais rudimentares que sejam os tratamentos médicos feitos<br />

nos insanos do Hôtel-Dieu ou do Bethleem, eles são no entanto a<br />

razão de ser ou pelo menos a justificativa para sua presença nesses<br />

hospitais. Em compensação, o mesmo não acontece nos diferentes<br />

prédios do Hospital Geral. Os regulamentos tinham previsto um único<br />

médico que deveria residir <strong>na</strong> Misericórdia, com a obrigação de visitar<br />

duas vezes por sema<strong>na</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s casas do Hospital 8 . Só podia<br />

tratar-se de um controle médico a distância, que não estava desti<strong>na</strong>do<br />

a curar os internos enquanto tais, porém ape<strong>na</strong>s aqueles que caíam<br />

doentes: prova suficiente disso é que os loucos inter<strong>na</strong>dos não eram<br />

considerados doentes ape<strong>na</strong>s em virtude de sua <strong>loucura</strong>. Em seu Essai<br />

sur la topographie physique et médicale de Paris, que <strong>da</strong>ta do fim do<br />

7 D.H. TUKE, idem, pp. 79-80.<br />

8 O primeiro desses médicos foi Raymond Finot, depois Fermelhuis, até 1725. A<br />

seguir Epy (1725-1762), Gaulard (1762-1782) e fi<strong>na</strong>lmente Philip (1782-<br />

1792). No decorrer do século XVIII, foram auxiliados por assistentes. Cf.<br />

DELAUNAY, Le monde medical parisien au XVIIIe siècle, pp. 72-73. Em Bicêtre,<br />

ao fi<strong>na</strong>l do século XVIII, havia um cirurgião estagiário que visitava a<br />

enfermaria uma vez por dia, dois colegas e alguns alunos (Memoires de P.<br />

Richard, ms. <strong>da</strong> Biblioteca <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de Paris, f. 23).<br />

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