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A história da loucura na idade clássica

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essa <strong>loucura</strong> tão secreta só existe porque explode <strong>na</strong> objetivi<strong>da</strong>de:<br />

violência, desencadeamento dos gestos, às vezes ato assassino. No<br />

fundo, ela consiste <strong>na</strong> imperceptível virtuali<strong>da</strong>de de uma que<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />

direção <strong>da</strong> mais visível e <strong>da</strong> pior <strong>da</strong>s objetivi<strong>da</strong>des, <strong>na</strong> direção do<br />

encadeamento mecânico de gestos irresponsáveis; ela é a<br />

possibili<strong>da</strong>de sempre interior de ser inteiramente rejeita<strong>da</strong> para o<br />

exterior de si mesma e de não mais existir, ao menos durante um<br />

certo tempo, numa ausência total de interiori<strong>da</strong>de.<br />

Como a paralisia geral, a moral insanity tem o valor de exemplo.<br />

Sua longevi<strong>da</strong>de durante o século XIX, a retoma<strong>da</strong> obsti<strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

mesmas discussões ao redor desses temas maiores, se explica<br />

porque ela estava próxima <strong>da</strong>s estruturas essenciais <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.:<br />

Mais que qualquer outra doença mental, ela manifestava essa curiosa<br />

ambigüi<strong>da</strong>de que faz <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> um elemento de interiori<strong>da</strong>de sob a<br />

forma de exteriori<strong>da</strong>de. Neste sentido, ela é como um modelo para<br />

to<strong>da</strong> psicologia possível: ela mostra, ao nível perceptível, corpos,<br />

comportamentos e mecanismos; e, ao nível do objeto, o momento<br />

i<strong>na</strong>cessível <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de; e assim como esse momento subjetivo<br />

não pode ter para o conhecimento uma existência concreta a não ser<br />

<strong>na</strong> objetivi<strong>da</strong>de, esta, por sua vez, só é aceitável e só tem sentido<br />

através <strong>da</strong>quilo que ela exprime do sujeito. A rapidez, propriamente<br />

insensata, <strong>da</strong> passagem do subjetivo para o objetivo <strong>na</strong> <strong>loucura</strong><br />

moral realiza, bem para além <strong>da</strong>s promessas, tudo aquilo que uma<br />

psicologia poderia desejar. Ela forma como que uma psicologização<br />

espontânea do homem. Mas, exatamente por isso, revela uma dessas<br />

ver<strong>da</strong>des obscuras que domi<strong>na</strong>ram to<strong>da</strong> a reflexão do século XIX<br />

sobre o homem: é que o momento essencial <strong>da</strong> objetivação, no<br />

homem, constitui uma coisa única com a passagem para a <strong>loucura</strong>. A<br />

<strong>loucura</strong> é a forma mais pura, a forma principal e primeira do<br />

movimento com o qual a ver<strong>da</strong>de do homem passa para o lado do<br />

objeto e se tor<strong>na</strong> acessível a uma percepção científica. O homem só<br />

se tor<strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza para si mesmo <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que é capaz de<br />

<strong>loucura</strong>. Esta, como passagem espontânea para a objetivi<strong>da</strong>de, é<br />

momento constitutivo no devir-objeto do homem.<br />

Estamos aqui no extremo oposto <strong>da</strong> experiência <strong>clássica</strong>. A<br />

<strong>loucura</strong>, que era ape<strong>na</strong>s o contato instantâneo do não--ser do erro<br />

com o <strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> imagem, conservava sempre uma dimensão pela qual<br />

ela escapava à apreensão objetiva; e quando se tratava,<br />

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