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A história da loucura na idade clássica

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variações interpretativas do tema de uma uni<strong>da</strong>de doravante<br />

adquiri<strong>da</strong>. Disso é testemunho, por exemplo, a explicação que<br />

Spengler propõe para a alternância entre mania e melancolia, cujo<br />

modelo ele retira <strong>da</strong> pilha elétrica. De início, haveria uma<br />

concentração do poder nervoso e de seu fluido nesta ou <strong>na</strong>quela<br />

região do sistema; ape<strong>na</strong>s esse setor é excitado, permanecendo o<br />

resto em estado de dormência: é a fase melancólica. Mas quando<br />

esta atinge um certo grau de intensi<strong>da</strong>de, esta carga local se espalha<br />

bruscamente por todo o sistema por ela violentamente agitado<br />

durante um certo tempo, até que a descarga seja completa<strong>da</strong>: é o<br />

episódio maníaco 58 . Neste nível de elaboração, a imagem é<br />

demasiado complexa e demasiado completa, é empresta<strong>da</strong> de um<br />

modelo demasiado distante para servir como organizadora <strong>na</strong><br />

percepção <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de patológica. Pelo contrário, ela é convoca<strong>da</strong> pela<br />

percepção que repousa por sua vez em imagens unificantes, porém<br />

bem mais elementares.<br />

São elas que estão secretamente presentes no texto do<br />

Diction<strong>na</strong>ire de James, um dos primeiros autores nos quais o ciclo<br />

maníaco-depressivo é <strong>da</strong>do como ver<strong>da</strong>de de observação, como<br />

uni<strong>da</strong>de facilmente legível para uma percepção libera<strong>da</strong>.<br />

É absolutamente necessário reduzir a melancolia e a mania a uma única<br />

espécie de doença e, conseqüentemente, examiná-las conjuntamente, pois<br />

verificamos em nossas experiências e observações cotidia<strong>na</strong>s que uma e<br />

outra têm a mesma origem e a mesma causa... As observações mais<br />

exatas e a experiência de todos os dias confirmam a mesma coisa, pois<br />

vemos que os melancólicos, sobretudo aqueles nos quais esta disposição é<br />

invetera<strong>da</strong>, tor<strong>na</strong>m-se facilmente maníacos, e quando a mania cessa, a<br />

melancolia recomeça, de modo que há i<strong>da</strong> e volta de uma para a outra<br />

conforme certos períodos 59 .<br />

Portanto, aquilo que se constituiu, no século XVIII, sob o efeito<br />

do trabalho <strong>da</strong>s imagens, é uma estrutura perceptiva, e não um<br />

sistema conceitual ou mesmo um conjunto de sintomas. Prova é que,<br />

tal como numa percepção, deslizamentos qualitativos poderão ocorrer<br />

sem que se altere a figura de conjunto. Assim, Cullen descobrirá <strong>na</strong><br />

mania, tal como <strong>na</strong> melancolia, "um objeto principal do delírio" 60 — e,<br />

inversamente, atribuirá a melancolia "a um tecido mais seco e mais<br />

58 SPENGLER, Briefe, welche einige Erfahrungen der elektrischen Wirkung in<br />

Krankheiten enthalten, Copenhague, 1754.<br />

59 CULLEN, Institutions de médecine pratique, II, p. 315.<br />

60 Idem, ibid., p. 315.<br />

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