15.10.2013 Views

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

e os sistemas <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, será possível retomar as grandes espécies<br />

do desatino tais como foram transmiti<strong>da</strong>s: Pinel enumera, entre as<br />

vesânias, a melancolia, a mania, a demência e o idiotismo — às quais<br />

acrescenta a hipocondria, o so<strong>na</strong>mbulismo e a hidrofobia 45 . Esquirol<br />

acrescenta ape<strong>na</strong>s esta nova família <strong>da</strong> monomania à série agora<br />

tradicio<strong>na</strong>l: mania, melancolia, demência e imbecili<strong>da</strong>de 46 . Os rostos<br />

já desenhados e reconhecidos <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> não foram modificados<br />

pelas construções nosológicas; a divisão em espécies quase vegetais<br />

não conseguiu dissociar ou alterar a solidez primitiva de seus<br />

caracteres. De uma extremi<strong>da</strong>de à outra <strong>da</strong> era <strong>clássica</strong>, o mundo <strong>da</strong><br />

<strong>loucura</strong> articula-se segundo as mesmas fronteiras. Caberá a outro<br />

século descobrir a paralisia geral, dividir entre as neuroses e as<br />

psicoses, identificar a paranóia e a demência precoce; a outro ain<strong>da</strong><br />

caberá delimitar a esquizofrenia. Esse paciente trabalho de<br />

observação não é conhecido dos séculos XVII e XVIII. Discerniram<br />

precárias famílias no jardim <strong>da</strong>s espécies: mas essas noções não<br />

abalaram a solidez dessa experiência quase perceptiva feita de outro<br />

lado. O pensamento médico repousava tranqüilamente sobre formas<br />

que não se modificavam e que continuavam com sua vi<strong>da</strong> silenciosa.<br />

A <strong>na</strong>tureza hierarquiza<strong>da</strong> e orde<strong>na</strong><strong>da</strong> dos classificadores era ape<strong>na</strong>s<br />

uma segun<strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza com relação a essas formas essenciais.<br />

Fixemo-las, para maior segurança, pois o sentido que tinham,<br />

próprio <strong>da</strong> era <strong>clássica</strong>, corre o risco de ocultar-se sob a permanência<br />

<strong>da</strong>s palavras que nós mesmos retomamos. Os verbetes <strong>da</strong><br />

Encyclopédie, exatamente porque não constituem obra origi<strong>na</strong>l,<br />

podem servir como ponto de referência.<br />

— Em oposição ao frenesi, delírio febril, a mania é um delírio<br />

sem febre, pelo menos essencial; ela comporta<br />

to<strong>da</strong>s essas doenças longas <strong>na</strong>s quais os doentes não ape<strong>na</strong>s desati<strong>na</strong>m<br />

como não percebem o que fazem e cometem ações que são ou parecem<br />

imotiva<strong>da</strong>s, extraordinárias e ridículas.<br />

— A melancolia também é um delírio, mas um<br />

delírio particular, que incide sobre um ou dois objetos determi<strong>na</strong>dos, sem<br />

febre ou furor, no que ela difere <strong>da</strong> mania e do frenesi. Freqüentemente<br />

esse delírio se vê acompanhado por uma tristeza insuperável, por um<br />

45 PÍNEL, Nosographie philosophique, Paris, 1798.<br />

46 ESQUIROL, Des maladies mentales. Paris, 1838.<br />

224

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!