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A história da loucura na idade clássica

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Pobreza desig<strong>na</strong> castigo:<br />

É por ordem sua que o céu se endurece, que as frutas são comi<strong>da</strong>s e<br />

consumi<strong>da</strong>s pelas chuvas e outras corrupções; e to<strong>da</strong>s as vezes que as<br />

vinhas, os campos e os prados forem batidos pelas gea<strong>da</strong>s e tempestades,<br />

também isso seja testemunho de alguma punição especial que ele exerce 44 .<br />

No mundo, pobreza e riqueza cantam o mesmo poder absoluto<br />

de Deus; mas o pobre só pode invocar o descontentamento do<br />

Senhor, pois sua existência traz o si<strong>na</strong>l de sua maldição. Do mesmo<br />

modo, é preciso exortar<br />

os pobres à paciência a fim de que aqueles que também não se satisfazem<br />

com o estado em que estão tratem, tanto quanto possam, de aliviar o jugo<br />

que lhes é imposto por Deus 45 .<br />

Quanto à obra de cari<strong>da</strong>de, de onde retira seu valor? Nem <strong>da</strong><br />

pobreza que ela socorre, pois esta não possui mais uma glória<br />

própria; nem <strong>da</strong>quele que a realiza, pois através de seu gesto é ain<strong>da</strong><br />

uma vontade particular de Deus que surge à luz do dia. Não é a obra<br />

que justifica, mas a fé que a enraíza em Deus.<br />

Os homens não se podem justificar diante de Deus com seus esforços, seus<br />

méritos e suas obras, mas sim gratuitamente, por causa do Cristo e pela fé 46 .<br />

Conhece-se essa recusa <strong>da</strong>s obras em Lutero, cuja proclamação<br />

deveria ressoar bem longe no pensamento protestante: "Não, as<br />

obras não são necessárias. Não, elas de <strong>na</strong><strong>da</strong> servem para a<br />

santi<strong>da</strong>de". Mas essa recusa concerne ape<strong>na</strong>s ao sentido <strong>da</strong>s obras<br />

com relação a Deus e à salvação; como todo ato humano, elas<br />

carregam os signos <strong>da</strong> finitude e os estigmas <strong>da</strong> que<strong>da</strong>. Sob esse<br />

aspecto, "não passam de pecados e máculas" 47 . Mas ao nível<br />

humano, elas têm um sentido: se têm eficácia em relação à salvação,<br />

têm valor de indicação e de testemunho <strong>da</strong> fé: "A fé não ape<strong>na</strong>s não<br />

nos tor<strong>na</strong> negligentes com as boas obras como também é a raiz com<br />

que estas são produzi<strong>da</strong>s" 48 . Donde esta tendência, comum a todos<br />

os movimentos <strong>da</strong> Reforma, de transformar os bens <strong>da</strong> Igreja em<br />

obras profa<strong>na</strong>s. Em 1525, Michel Geismayer pede a transformação de<br />

todos os mo<strong>na</strong>stérios em hospitais; a Dieta de Espiro recebe no ano<br />

seguinte petições que exigem a supressão dos conventos e o confisco<br />

44 CALVINO, op. cit., p. 229.<br />

45 Idem, p. 231.<br />

46 Confissão de Augsburgo.<br />

47 CALVINO, Justifications, Livro III, Cap. XII, nota 4.<br />

48 Catichisme de Genève, op. CALVINO, VI, p. 49.<br />

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