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A história da loucura na idade clássica

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com que a imagi<strong>na</strong>ção seja seduzi<strong>da</strong>" 41 . Mas o mundo <strong>da</strong>s causas é<br />

invocado sobretudo quando se trata de distinguir os signos uns dos<br />

outros, isto é, quando lhes é pedido que sejam outra coisa além de<br />

um si<strong>na</strong>l de reconhecimento, quando lhes é necessário justificar uma<br />

divisão lógica em espécies e classes. Assim, o delírio se distingue <strong>da</strong><br />

aluci<strong>na</strong>ção pelo fato de sua origem dever ser procura<strong>da</strong> ape<strong>na</strong>s no<br />

cérebro, e não nos diversos órgãos do sistema nervoso. Deseja-se<br />

estabelecer a diferença entre os "delírios essenciais" e os "delírios<br />

passageiros que acompanham as febres"? Basta lembrar que estas<br />

últimas se devem a uma alteração passageira dos fluidos, enquanto<br />

aqueles se devem a uma depravação, freqüentemente definitiva, dos<br />

elementos sólidos 42 . Ao nível geral e abstrato <strong>da</strong>s Ordens, a<br />

classificação é fiel ao princípio do conjunto de sintomas; mas a partir<br />

do momento em que se aproxima <strong>da</strong>s formas concretas <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, a<br />

causa física tor<strong>na</strong>-se o elemento essencial <strong>da</strong>s distinções. Em sua<br />

vi<strong>da</strong> real, a <strong>loucura</strong> é habita<strong>da</strong> pelo movimento secreto <strong>da</strong>s causas.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, ela não as apresenta por si própria, tampouco por sua<br />

<strong>na</strong>tureza, uma vez que está dividi<strong>da</strong> entre esses poderes do espírito<br />

que lhe dão uma ver<strong>da</strong>de abstrata e geral e o trabalho obscuro <strong>da</strong>s<br />

causas orgânicas que lhe dão uma existência concreta.<br />

De qualquer maneira, o trabalho de organização <strong>da</strong>s doenças do<br />

espírito nunca é feito ao nível <strong>da</strong> própria <strong>loucura</strong>. Ela não pode<br />

testemunhar em favor de sua própria ver<strong>da</strong>de. É necessário que<br />

intervenham, ou o julgamento morai, ou a análise <strong>da</strong>s causas físicas.<br />

Ou a paixão, a falta, com tudo o que ela pode comportar de<br />

liber<strong>da</strong>de; ou a mecânica, rigorosamente determi<strong>na</strong><strong>da</strong>, dos espíritos<br />

animais e do gênero nervoso. Mas, esta é uma antinomia ape<strong>na</strong>s<br />

aparente, e com existência ape<strong>na</strong>s para nós: para o pensamento<br />

clássico existe uma região onde a moral e a mecânica, a liber<strong>da</strong>de e o<br />

corpo, a paixão e a patologia encontram ao mesmo tempo sua<br />

uni<strong>da</strong>de e sua medi<strong>da</strong>. É a imagi<strong>na</strong>ção que tem seus erros, suas<br />

quimeras e suas presunções — mas <strong>na</strong> qual se resumem igualmente<br />

todos os mecanismos do corpo. E, de fato, tudo o que essas<br />

tentativas de classificação podem ter<br />

41<br />

42<br />

39. SAUVAGES, loc. cit., VII, p. 43 (cf. também I, p. 366).<br />

40. Idem, ibidem, VII, p. 191.<br />

41. Idem, ibidem, VII, p. I.<br />

42. Idem, ibidem, VII, pp. 305-334.<br />

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