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A história da loucura na idade clássica

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fazem dessa mão-de-obra desemprega<strong>da</strong> o bem mais precioso:<br />

O auxílio que é de mais valia ao desafortu<strong>na</strong>do válido é o meio de aju<strong>da</strong>r a si<br />

mesmo com suas próprias forças e com seu trabalho; a esmola para o homem<br />

sadio e robusto não é uma cari<strong>da</strong>de, ou não passa de uma cari<strong>da</strong>de mal<br />

entendi<strong>da</strong>; ela impõe à socie<strong>da</strong>de uma carga supérflua... Assim é que<br />

estamos vendo o governo e os proprietários diminuir as distribuições<br />

gratuitas 78 .<br />

Aquilo que para o século XVIII ain<strong>da</strong> era a "eminente digni<strong>da</strong>de"<br />

dos pobres e que <strong>da</strong>va seu sentido eterno ao ato de cari<strong>da</strong>de se`<br />

transforma agora em primordial utili<strong>da</strong>de: não se exige nenhuma<br />

comiseração, mas o reconhecimento <strong>da</strong> riqueza que eles representam<br />

aqui embaixo. O rico <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média era santificado pelo pobre, o do<br />

século XVIII é mantido por este:<br />

sem as classes inferiores, isto é, sem as classes sofredoras <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, o<br />

rico não seria nem alojado, nem vestido, nem alimentado; é para ele que o<br />

artesão, empoleirado num frágil an<strong>da</strong>ime, levanta, com risco de vi<strong>da</strong>,<br />

enormes pesos até o alto de nossos edifícios; é para ele que o lavrador<br />

enfrenta a intempérie <strong>da</strong>s estações e as fadigas acabrunhantes <strong>da</strong> lavoura; é<br />

para ele que uma multidão de desafortu<strong>na</strong>dos vão encontrar a morte <strong>na</strong>s<br />

mi<strong>na</strong>s ou <strong>na</strong>s ofici<strong>na</strong>s de tingimento ou de preparação de minerais 79 .<br />

O pobre é reintroduzido <strong>na</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> qual tinha sido<br />

expulso pelo inter<strong>na</strong>mento; mas agora tem um novo rosto. Não é<br />

mais a justificativa <strong>da</strong> riqueza, sua forma espiritual: é a matériaprima<br />

<strong>da</strong> riqueza. Tinha sido sua razão de ser, é agora sua condição<br />

de existência. Através do pobre, o rico não mais se transcende,<br />

subsiste. Transforma<strong>da</strong> em coisa essencial para a riqueza, a pobreza<br />

deve ser liberta<strong>da</strong> do inter<strong>na</strong>mento e posta à sua disposição.<br />

E o pobre doente? Este é, por excelência, o elemento negativo.<br />

Miséria sem recurso, sem riqueza virtual. Este, e somente este,<br />

reclama uma assistência total. Mas em que baseá-la? Não há<br />

utili<strong>da</strong>de econômica no tratamento dos doentes, nem nenhuma<br />

urgência material. Só as razões do coração podem exigi-lo. Se existe<br />

uma assistência aos doentes, será sempre fruto <strong>da</strong> organização dos<br />

sentimentos de pie<strong>da</strong>de e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, mais primitivos do que o<br />

corpo social, já que sem dúvi<strong>da</strong> são a origem deste:<br />

78 COQUEAU, loc. cit., p. 7.<br />

79 Idem, ibid.<br />

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