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A história da loucura na idade clássica

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Ele é digno de pie<strong>da</strong>de, .bem como dois ou três outros que ficariam melhor<br />

em alguma ci<strong>da</strong>dela, por causa <strong>da</strong> companhia de seis outros que são loucos, e<br />

que os atormentam dia e noite.<br />

E o sentido dessa frase será bem entendido pelo tenente de<br />

polícia, já que os internos em questão serão postos em liber<strong>da</strong>de.<br />

Quanto às reclamações do fiscal de Brunswick, têm o mesmo sentido:<br />

a ofici<strong>na</strong> é perturba<strong>da</strong> pelos gritos e desordens dos insensatos; seus<br />

furores são um constante perigo, e mais vale enviá-los para lugares<br />

onde sejam mantidos amarrados. E já se pode pressentir que de um<br />

século para outro os mesmos protestos não tinham no fundo o<br />

mesmo valor. No começo do século XIX, fica-se indig<strong>na</strong>do pelo fato<br />

de não serem os loucos melhor tratados do que os conde<strong>na</strong>dos de<br />

direito comum ou os prisioneiros do Estado. Ao longo do século XVIII,<br />

afirma-se que os internos mereciam melhor sorte do que aquela que<br />

os confunde com os insensatos. Para Esquirol, o escân<strong>da</strong>lo se deve ao<br />

fato de os conde<strong>na</strong>dos serem ape<strong>na</strong>s conde<strong>na</strong>dos; para o prior de<br />

Senlis, ao fato de que, no fundo, os loucos são ape<strong>na</strong>s loucos.<br />

Diferença que talvez não tenha muito peso, e que facilmente se<br />

poderia adivinhar. No entanto, era necessário valorizá-la para<br />

compreender como se transformou, ao longo do século XVIII a<br />

consciência <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>. Ela não evoluiu no quadro de um movimento<br />

humanitário que aos poucos a teria aproximado <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong><br />

do louco, de seu rosto mais próximo de nós e mais merecedor de<br />

pie<strong>da</strong>de; tampouco evoluiu sob a pressão de uma necessi<strong>da</strong>de<br />

científica que a teria tor<strong>na</strong>do mais atenta, mais fiel àquilo que a<br />

<strong>loucura</strong> pode ter a dizer de si mesma. Se mudou lentamente, foi no<br />

interior desse espaço real e ao mesmo tempo artificial do<br />

inter<strong>na</strong>mento; foram deslizamentos imperceptíveis em suas<br />

estruturas ou, por momentos, de crises violentas, que aos poucos<br />

formaram a consciência <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> que será contemporânea <strong>da</strong><br />

Revolução. Nenhum progresso médico, nenhuma abor<strong>da</strong>gem<br />

humanitária é responsável pelo fato de os loucos serem<br />

progressivamente isolados, de a monotonia do insensato ser dividi<strong>da</strong><br />

em espécies rudimentares. Ë do fundo mesmo do inter<strong>na</strong>mento que<br />

<strong>na</strong>sce o fenômeno; é a ele que se deve pedir contas a respeito do que<br />

seja essa nova consciência <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

Consciência política, bem mais do que filantrópica. Pois se se<br />

percebe, no século XVIII, que entre os internos, entre os libertinos,<br />

os devassos e as crianças pródigas existem homens cuja desordem é<br />

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