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A história da loucura na idade clássica

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tempo o indivíduo está doente e, se for o caso, quais os medicamentos<br />

utilizados 68 .<br />

Desde o fim do século XVIII, o certificado médico tinha-se<br />

tor<strong>na</strong>do mais ou menos obrigatório para o inter<strong>na</strong>mento dos loucos 69 .<br />

Mas, no interior do próprio asilo, o médico assume um lugar<br />

predomi<strong>na</strong>nte, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que o transforma num espaço médico.<br />

No entanto, e isto é essencial, a intervenção do médico não se faz em<br />

virtude de um saber ou de um poder médico que ele deteria, que se<br />

justificaria por um corpo de conhecimentos objetivos. Não é como<br />

cientista que o honro medicus tem autori<strong>da</strong>de no asilo, mas como<br />

sábio. Se a profissão médica é requisita<strong>da</strong>, é como garantia jurídica e<br />

moral, e não sob o título <strong>da</strong> ciência 70 . Um homem de grandes<br />

conhecimentos, de virtude íntegra e com longa experiência do asilo<br />

poderia bem substituir o médico 71 . Pois o trabalho médico é ape<strong>na</strong>s<br />

parte de uma imensa tarefa moral que deve ser realiza<strong>da</strong> no asilo e<br />

que é a única que pode assegurar a cura do insensato:<br />

Uma lei inviolável <strong>na</strong> direção de todo estabelecimento público ou particular<br />

de alie<strong>na</strong>dos não deve conceder ao maníaco to<strong>da</strong> a latitude de liber<strong>da</strong>de<br />

que pode permitir sua segurança pessoal, ou a dos outros, proporcio<strong>na</strong>r a<br />

repressão à gravi<strong>da</strong>de maior ou menor ou ao perigo constituído por seus<br />

desvios... recolher todos os fatos que podem servir para esclarecer o<br />

médico no tratamento, estu<strong>da</strong>r com cui<strong>da</strong>do as varie<strong>da</strong>des particulares<br />

dos costumes e temperamentos e manifestar suavi<strong>da</strong>de ou firmeza,<br />

formas conciliadoras ou o tom imponente <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de e de uma<br />

severi<strong>da</strong>de inflexível? 72<br />

Segundo Samuel Tuke, o primeiro médico que foi desig<strong>na</strong>do para<br />

o Retiro era recomen<strong>da</strong>do por sua "perseverança incansável". Sem<br />

dúvi<strong>da</strong> não tinha nenhum conhecimento particular <strong>da</strong>s doenças<br />

mentais quando entrou para o Retiro, mas era "um espírito sensível<br />

que sabia muito bem que <strong>da</strong> aplicação de sua habili<strong>da</strong>de dependiam<br />

os interesses mais estimados de seus semelhantes". Tentou<br />

68 Regulamento do Retiro, seção III, art. 5, cit. in S. TUKE, loc. cit., PP. 89-90.<br />

69 «A admissão dos loucos ou insensatos nos estabelecimentos que lhes são ou<br />

serão desti<strong>na</strong>dos em to<strong>da</strong> a área do departamento de Paris será feita<br />

mediante relatório de um médico e de um cirurgião legalmente<br />

reconhecidos». Projet de Règlement sur l'admission des insensés, adotado<br />

pelo departamento de Paris, cit. in TUETEY, III, p. 500.<br />

70 Langermann e Kant, com o mesmo espírito, preferiam que esse papel essencial<br />

fosse exercido por um «filósofo». Isso não está em oposição, pelo contrário,<br />

com o que pensavam Tuke e Pinel.<br />

71 Cf. o que Pinel diz de Pussin e de sua mulher, por ele transformados em seus<br />

assistentes <strong>na</strong> Salpêtriêre. SÉMELAIGNE, Aliénistes et philanthropes,<br />

Apêndice, p. 502.<br />

72 PINEL, loc. cit., pp. 292-293.<br />

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