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A história da loucura na idade clássica

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1. O louco desven<strong>da</strong> a ver<strong>da</strong>de elementar do homem: esta o<br />

reduz a seus desejos primitivos, a seus mecanismos simples, às<br />

determi<strong>na</strong>ções mais prementes de seu corpo. A <strong>loucura</strong> é uma<br />

espécie de infância cronológica e social, psicológica e orgânica, do<br />

homem. "Quanta a<strong>na</strong>logia entre a arte de dirigir os alie<strong>na</strong>dos e a de<br />

educar os jovens!", constatava Pinel 8 .<br />

— Mas o louco desven<strong>da</strong> a ver<strong>da</strong>de termi<strong>na</strong>l do homem: ele<br />

mostra até onde puderam levá-lo as paixões, a vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de,<br />

tudo aquilo que o afasta de uma <strong>na</strong>tureza primitiva que não conhece<br />

a <strong>loucura</strong>. Esta está sempre liga<strong>da</strong> a uma civilização e ao seu malestar.<br />

Conforme os depoimentos de viajantes, os selvagens não estão sujeitos às<br />

desordens <strong>da</strong>s funções intelectuais 9 .<br />

A <strong>loucura</strong> começa com a velhice do mundo; e ca<strong>da</strong> rosto<br />

assumido pela <strong>loucura</strong> no decorrer do tempo diz a forma e a ver<strong>da</strong>de<br />

dessa corrupção.<br />

2. A <strong>loucura</strong> pratica no homem uma espécie de corte intemporal;<br />

ela seccio<strong>na</strong>, não ó tempo, mas o espaço; ela não sobe nem desce<br />

pelo curso <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>; mostra sua interrupção, o mergulho<br />

no determinismo do copo. Nela triunfa o orgânico, a única ver<strong>da</strong>de do<br />

homem que pode ser objetiva<strong>da</strong> e percebi<strong>da</strong> cientificamente. A<br />

<strong>loucura</strong> é<br />

o desregramento <strong>da</strong>s funções cerebrais... As partes cerebrais são a sede<br />

<strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, assim como os pulmões são a sede <strong>da</strong> dispnéia, e o estômago<br />

a sede <strong>da</strong> dispepsia 10 .<br />

— Mas a <strong>loucura</strong> se distingue <strong>da</strong>s doenças do corpo pelo fato de<br />

que manifesta uma ver<strong>da</strong>de que não aparece nestas: ela faz surgir<br />

um mundo interior de maus instintos, de perversi<strong>da</strong>de, de<br />

sofrimentos e violência que até então estivera adormecido. Ela deixa<br />

que apareça uma profundi<strong>da</strong>de que dá todo seu sentido à liber<strong>da</strong>de<br />

do homem; essa profundi<strong>da</strong>de ilumi<strong>na</strong><strong>da</strong> pela <strong>loucura</strong> é a mal<strong>da</strong>de<br />

em estado selvagem.<br />

O mal existe em si no coração que é em si <strong>na</strong>tural e egoísta. É o mau<br />

gênio do homem que predomi<strong>na</strong> <strong>na</strong> <strong>loucura</strong> 11 .<br />

8 PINEL, cit. sem referência in SÉMELAIGNE: Philippe Pine! et son oeuvre, p. 106.<br />

9 MATTHEY, loc. cit., p. 67.<br />

10 SPURZHEIM, Observation sur la folie, pp. 141-142.<br />

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