15.10.2013 Views

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A doença, como a planta, é a própria racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza:<br />

Os sintomas são, em relação às doenças, aquilo que as folhas e os<br />

suportes (fulcra) são em relação às plantas 34 .<br />

Em relação à primeira "<strong>na</strong>turalização", <strong>da</strong> qual a medici<strong>na</strong> do<br />

século XVI é testemunha, esta segun<strong>da</strong> <strong>na</strong>turalização apresenta<br />

novas exigências. Não se trata mais de uma quase-<strong>na</strong>tureza, ain<strong>da</strong><br />

to<strong>da</strong> penetra<strong>da</strong> pelo irreal, por fantasmas, pelo imaginário, uma<br />

<strong>na</strong>tureza de ilusão e engano, mas de uma <strong>na</strong>tureza que é a plenitude<br />

total estanca<strong>da</strong> <strong>da</strong> razão. Uma <strong>na</strong>tureza que é a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> razão<br />

presente em ca<strong>da</strong> um de seus elementos.<br />

Tal é o novo espaço onde a <strong>loucura</strong>, como doença, deve agora<br />

inserir-se.<br />

Constitui ain<strong>da</strong> um paradoxo, nessa <strong>história</strong> que não carece<br />

deles, a constatação de que a <strong>loucura</strong> se integrou, sem dificul<strong>da</strong>des<br />

aparentes, nessas novas normas <strong>da</strong> teoria médica. O espaço <strong>da</strong><br />

classificação abre-se sem problemas para a análise <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, e a<br />

<strong>loucura</strong>, por sua vez, de imediato ali encontra seu lugar. Nenhum dos<br />

classificadores parece ter-se detido diante dos problemas que ela<br />

poderia ter colocado.<br />

Ora, esse espaço sem profundi<strong>da</strong>de, essa definição <strong>da</strong> doença<br />

ape<strong>na</strong>s através <strong>da</strong> plenitude dos fenômenos, essa ruptura com os<br />

parentescos do mal, essa recusa a um pensamento negativo — não<br />

provém tudo isso de outro filão e de um nível diferente <strong>da</strong>quilo que<br />

conhecemos sobre a experiência <strong>clássica</strong> <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>? Não há aí dois<br />

sistemas justapostos, mas que pertencem a dois universos<br />

diferentes? A classificação <strong>da</strong>s <strong>loucura</strong>s não constitui um artifício de<br />

simetria ou um surpreendente avanço sobre as concepções do<br />

século? E se se pretende a<strong>na</strong>lisar aquilo que é a experiência <strong>clássica</strong><br />

em sua profundi<strong>da</strong>de, não seria melhor deixar <strong>na</strong> superfície o esforço<br />

de classificação e, pelo contrário, seguir com to<strong>da</strong> sua lentidão aquilo<br />

que essa experiência nos indica por si mesma, <strong>na</strong>quilo que ela tem de<br />

negativo, de parentesco com o mal e com todo o universo ético do<br />

razoável?<br />

34 LINNÉ, Lettre à Boissier de Sauvages, cit. por Berg (loc. cit.).<br />

212

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!