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A história da loucura na idade clássica

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ápi<strong>da</strong>, ou melhor, alter<strong>na</strong>tiva, não interrompi<strong>da</strong> de idéias e ações<br />

isola<strong>da</strong>s, de emoções ligeiras ou desorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s, esquecendo-se tudo<br />

aquilo que lhes é anterior" 21 . Nestas imagens, os conceitos de<br />

estupidez e imbecili<strong>da</strong>de se fixam, e com isso também o conceito de<br />

demência, que sai lentamente de sua negativi<strong>da</strong>de e começa a ser<br />

considerado numa certa intuição do tempo e do movimento.<br />

Mas se se põem de lado esses grupos adjacentes do frenesi e <strong>da</strong><br />

imbecili<strong>da</strong>de, que se organizam ao redor de temas qualitativos, podese<br />

dizer que o conceito de demência permanece à superfície <strong>da</strong><br />

experiência — bem próximo <strong>da</strong> idéia geral do desatino, bastante<br />

afastado do centro real onde <strong>na</strong>scem as figuras concretas <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

A demência é o mais simples dos conceitos médicos <strong>da</strong> alie<strong>na</strong>ção — o<br />

que menos se oferece aos mitos, às valorizações morais, aos sonhos<br />

<strong>da</strong> imagi<strong>na</strong>ção. E, apesar de tudo, ele é, do modo mais secreto<br />

possível, o mais incoerente, <strong>na</strong> própria medi<strong>da</strong> em que escapa ao<br />

perigo de to<strong>da</strong>s essas ascendências; nele, <strong>na</strong>tureza e desatino<br />

permanecem à superfície de sua generali<strong>da</strong>de abstrata, não<br />

conseguindo se compor <strong>na</strong>s profundezas imaginárias como aquelas<br />

em que vêm à vi<strong>da</strong> as noções de mania e melancolia.<br />

II. MANIA E MELANCOLIA<br />

A noção de melancolia era considera<strong>da</strong>, no século XVI, entre<br />

uma certa definição pelos sintomas e um princípio de explicação<br />

oculto no próprio termo que a desig<strong>na</strong>. Do lado dos sintomas,<br />

encontram-se to<strong>da</strong>s as idéias delirantes que um indivíduo pode ter a<br />

respeito de si mesmo:<br />

Alguns deles acreditam ser animais, cuja voz e gestos imitam. Alguns<br />

pensam que são vasilhas de vidro e, por isso, recuam diante dos outros,<br />

com medo de se quebrarem; outros temem a morte, à qual no entanto<br />

acabam se entregando freqüentemente. Outros imagi<strong>na</strong>m que são<br />

culpados de algum crime, e tanto que tremem e têm medo quando vêem<br />

alguém ir em sua direção, pensando que querem pôr-lhes as mãos em<br />

cima, para levá-los prisioneiros e fazê-los morrer pela justiça 22 .<br />

Temas delirantes que permanecem isolados e não comprometem<br />

o conjunto <strong>da</strong> razão. Sydenham observará ain<strong>da</strong> que os melancólicos<br />

são<br />

21 PINEL, Nosographie philosophique, ed. de 1818, III, p. 130.<br />

22 J. WEYER, De praestigiis <strong>da</strong>emonum, trad. francesa, p. 222.<br />

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