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A história da loucura na idade clássica

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patetice; chama-se imbecili<strong>da</strong>de quando se estende pela ou surge <strong>na</strong><br />

i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> razão; e quando aparece <strong>na</strong> velhice, é conheci<strong>da</strong> pelo nome de<br />

disparate ou condição infantil 16 .<br />

Distinção essa que tem ape<strong>na</strong>s um valor cronológico, uma vez<br />

que nem os sintomas, nem a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> doença variam segundo a<br />

i<strong>da</strong>de <strong>na</strong> qual começa a se manifestar. No máximo,<br />

os acometidos pela demência mostram de vez em quando algumas<br />

virtudes de seu antigo saber, coisa que os estúpidos não podem fazer 17 .<br />

Lentamente, a diferença entre demência e estupidez se<br />

aprofun<strong>da</strong>: não mais ape<strong>na</strong>s distinção no tempo, mas oposição no<br />

mundo <strong>da</strong> ação. A estupidez age no próprio domínio <strong>da</strong> sensação: a<br />

imbecili<strong>da</strong>de é insensível à luz e ao ruído; o demente é indiferente a<br />

isso; o primeiro <strong>na</strong><strong>da</strong> recebe, o segundo não cui<strong>da</strong> do que lhe é <strong>da</strong>do.<br />

A um é recusa<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong>de do mundo exterior; ao outro, sua<br />

ver<strong>da</strong>de não importa. É mais ou menos esta distinção que Sauvages<br />

retoma em sua Nosologie; para ele, a demência<br />

difere <strong>da</strong> estupidez <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que as pessoas dementes sentem<br />

perfeitamente as impressões dos objetos, coisa que os estúpidos não<br />

fazem; mas as primeiras não prestam atenção a eles, não se dão a esse<br />

trabalho, observando-os com absoluta indiferença, desprezando a<br />

coerência e não se embaraçando por isso 18 .<br />

Mas que diferença se deve estabelecer entre a estupidez e as<br />

enfermi<strong>da</strong>des congênitas dos sentidos? Tratando a demência como<br />

uma perturbação do juízo e a estupidez como uma deficiência <strong>da</strong><br />

sensação, não se está correndo o risco de confundir um cego ou um<br />

surdo-mudo com um imbecil? 19<br />

Um artigo <strong>da</strong> Gazette de médecine, em 1762, retoma o problema<br />

a respeito <strong>da</strong> observação de um animal. Trata-se de um cachorro<br />

novo:<br />

Todos dirão que ele é cego, surdo, mudo e sem olfato, seja por <strong>na</strong>scença,<br />

seja por um acidente ocorrido pouco após o <strong>na</strong>scimento, de forma que a<br />

16 DUFOUR, 'oc. cit., p. 357.<br />

17 Idem, ibid, s, p. 359.<br />

18 SAUVAGES, loc. cit., VII, pp. 334-335.<br />

19 Durante muito tempo, <strong>na</strong> prática, se considerará a imbecili<strong>da</strong>de como uma<br />

mistura de <strong>loucura</strong> e enfermi<strong>da</strong>de sensorial. Uma ordem de 11 de abril de<br />

1779 prescreve à Superiora <strong>da</strong> Salpêtrière que receba Marie Fichet, conforme<br />

relatórios assi<strong>na</strong>dos pelos médicos e cirurgiões, «que constatam que a dita<br />

Fichei <strong>na</strong>sceu sur<strong>da</strong>-mu<strong>da</strong> e demente» (B.N. Col. «Joly de Fleury», ms. 1235,<br />

f. 89).<br />

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