15.10.2013 Views

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

adquire-se o hábito de inocular sar<strong>na</strong> nos casos mais renitentes de<br />

mania. Em sua Instruction de 1785, Doublet, dirigindo-se aos<br />

diretores de hospitais, recomen<strong>da</strong>, caso as sangrias, purgações,<br />

banhos e duchas não acabem com a mania, que recorram aos<br />

"cautérios, aos sedenhos, aos abscessos superficiais, à inoculação <strong>da</strong><br />

sar<strong>na</strong>" 33 .<br />

Mas a tarefa principal consiste em dissolver to<strong>da</strong>s as<br />

fermentações que, forma<strong>da</strong>s no corpo, determi<strong>na</strong>ram a <strong>loucura</strong> 34 .<br />

Para tanto, os amargos vêm em primeiro lugar. O amargor tem to<strong>da</strong>s<br />

as rudes virtudes <strong>da</strong> água do mar; purifica enquanto desgasta,<br />

exerce sua corrosão sobre tudo aquilo que o mal pôde depositar de<br />

inútil, de malsão e impuro no corpo ou <strong>na</strong> alma. Amargo e forte, o<br />

café é útil para "as pessoas gor<strong>da</strong>s cujos humores grossos mal<br />

circulam" 35 ; ele resseca sem queimar — pois é próprio dos corpos<br />

dessa espécie dissipar as umi<strong>da</strong>des supérfluas sem provocar um calor<br />

perigoso; tanto no café como no fogo sem chama existe um poder de<br />

purificação que não calci<strong>na</strong>. O café reduz a impureza:<br />

Os que se dele servem sentem, por longa experiência, que ele acomo<strong>da</strong> o<br />

estômago, consome as umi<strong>da</strong>des supérfluas, dissipa os ventos, dissolve o<br />

muco <strong>da</strong>s tripas, do que faz uma suave abstersão e, o que é<br />

particularmente considerável, impede os vapores que sobem à cabeça, e<br />

por conseguinte suaviza as dores e as ponta<strong>da</strong>s que normalmente se<br />

sente <strong>na</strong> cabeça; enfim, dá forças, vigor e nitidez aos espíritos animais<br />

sem deixar nenhuma impressão considerável de calor, nem mesmo <strong>na</strong>s<br />

pessoas mais queima<strong>da</strong>s que costumam servir-se dele 36 .<br />

Amarga, mas também tonificante, é a quini<strong>na</strong>, que Whytt<br />

recomen<strong>da</strong> de bom grado às pessoas "cujo gênero nervoso é muito<br />

delicado"; é eficaz <strong>na</strong> "fraqueza, <strong>na</strong> falta de ânimo e no abatimento";<br />

dois anos de um tratamento consistindo ape<strong>na</strong>s numa tintura de<br />

quini<strong>na</strong> "interrompido de vez em quando por no máximo um mês"<br />

bastaram para curar uma mulher ataca<strong>da</strong> por doença nervosa 37 . Para<br />

33 DOUBLET, Traitement qu'il faut administrer <strong>da</strong>ns les différentes espèces de folie.<br />

In Instruction de DOUBLET e COLOMBIER (Jour<strong>na</strong>l de médecine, julho de<br />

1785).<br />

34 O Diction<strong>na</strong>ire de James propõe esta genealogia <strong>da</strong>s diversas alie<strong>na</strong>ções: «A<br />

mania origi<strong>na</strong>-se geralmente <strong>da</strong> melancolia, a melancolia <strong>da</strong>s afecções<br />

hipocondríacas e as afecções hipocondríacas dos sucos impuros e viciados que<br />

circulam langui<strong>da</strong>mente nos intestinos.. » (Diction<strong>na</strong>ire universel de<br />

médecine, verbete «Mania», IV, p. 1126).<br />

35 THIRION, De l'usage et de Tabus du café. Tese submeti<strong>da</strong> em Pont-à- - Moussun,<br />

1763. Cf. resenha in Gazette salutaire, n. 37, 15.9.1763.<br />

36 Consultation de La Closure. Arse<strong>na</strong>l, ms. 4528, f. 119.<br />

37 WHYTT, Traigé de, maladies nerveuses, II, p. 145.<br />

345

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!