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A história da loucura na idade clássica

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8. Figuras <strong>da</strong> Loucura<br />

A <strong>loucura</strong>, portanto, é negativi<strong>da</strong>de. Mas negativi<strong>da</strong>de que se dá<br />

numa plenitude de fenômenos, segundo uma riqueza sabiamente<br />

disposta no jardim <strong>da</strong>s espécies.<br />

No espaço limitado e definido por essa contradição realiza-se o<br />

conhecimento discursivo <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>. Por baixo <strong>da</strong>s figuras orde<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

e calmas <strong>da</strong> análise médica opera um difícil relacio<strong>na</strong>mento, no qual<br />

se constitui o devir histórico: relacio<strong>na</strong>mento entre o desatino, como<br />

sentido último <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, e a <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, como forma de sua<br />

ver<strong>da</strong>de. Que a <strong>loucura</strong>, sempre situa<strong>da</strong> <strong>na</strong>s regiões originárias do<br />

erro, sempre em segundo plano em relação à razão, possa no<br />

entanto abrir-se inteiramente para esta e confiar-lhe a totali<strong>da</strong>de de<br />

seus segredos, tal é o problema que o conhecimento <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> ao<br />

mesmo tempo manifesta e oculta.<br />

Neste capítulo, não se trata de fazer a <strong>história</strong> <strong>da</strong>s diferentes<br />

noções <strong>da</strong> psiquiatria, relacio<strong>na</strong>ndo-as com o conjunto do saber, <strong>da</strong>s<br />

teorias, <strong>da</strong>s observações médicas que lhes são contemporâneas; não<br />

falaremos <strong>da</strong> psiquiatria <strong>na</strong> medici<strong>na</strong> dos espíritos ou <strong>na</strong> fisiologia dos<br />

sólidos. Mas, retomando uma a uma as grandes figuras <strong>da</strong> <strong>loucura</strong><br />

que se mantiveram ao longo <strong>da</strong> era <strong>clássica</strong>, tentaremos mostrar<br />

como se situaram no interior <strong>da</strong> experiência do desatino; como aí<br />

conseguiram, ca<strong>da</strong> uma delas, uma coesão própria e como chegaram<br />

a manifestar de modo positivo a negativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

Firma<strong>da</strong> esta positivi<strong>da</strong>de, ela não tem nem o mesmo nível, nem<br />

a mesma <strong>na</strong>tureza, nem a mesma força <strong>na</strong>s diferentes formas <strong>da</strong><br />

<strong>loucura</strong>: positivi<strong>da</strong>de frágil, delica<strong>da</strong>, transparente, ain<strong>da</strong> próxima <strong>da</strong><br />

negativi<strong>da</strong>de do desatino, através do conceito de demência. Já mais<br />

densa, a que é consegui<strong>da</strong>, através de todo um sistema de imagens,<br />

pela mania e pela melancolia. A mais consistente, e também a mais<br />

afasta<strong>da</strong> do desatino e a que lhe é mais perigosa, é a que, através de<br />

uma reflexão nos confins <strong>da</strong> moral e <strong>da</strong> medici<strong>na</strong>, através <strong>da</strong><br />

elaboração de uma espécie de espaço corporal tanto ético quanto<br />

orgânico, dá um conteúdo às noções de histeria, hipocondria, a tudo<br />

aquilo que logo será chamado de doenças nervosas. Esta positivi<strong>da</strong>de<br />

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