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A história da loucura na idade clássica

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inter<strong>na</strong>mento e por ele deixado vazio. Por isso mesmo, a exclusão<br />

dos loucos assumirá um outro sentido: não mais marcará a grande<br />

cesura entre razão e desatino, nos limites últimos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, mas,<br />

no próprio interior do grupo, traçará uma espécie de linha de<br />

compromisso entre sentimentos e deveres — entre a pie<strong>da</strong>de e o<br />

horror, entre a assistência e a segurança. Nunca mais terá esse valor<br />

de limite absoluto que havia talvez her<strong>da</strong>do <strong>da</strong>s velhas obsessões, e<br />

que havia confirmado, nos temores abafados dos homens, ao retomar<br />

de uma maneira quase geográfica o lugar <strong>da</strong> lepra. Agora, essa<br />

exclusão deve ser antes medi<strong>da</strong> do que limite, e é a evidência dessa<br />

nova significação que tor<strong>na</strong> tão criticáveis os "asilos franceses,<br />

inspirados <strong>na</strong>s leis roma<strong>na</strong>s"; com efeito, eles só aliviam<br />

o temor público e não podem satisfazer à pie<strong>da</strong>de, que exige não ape<strong>na</strong>s a<br />

segurança mas ain<strong>da</strong> cui<strong>da</strong>dos e tratamentos que muitas vezes são<br />

negligenciados e à falta dos quais a demência de uns é eter<strong>na</strong>, quando se<br />

poderia curá-la, e a de outros se vê aumenta<strong>da</strong>, quando se poderia diminuíla.<br />

Mas essa nova forma de inter<strong>na</strong>mento deve ser uma medi<strong>da</strong><br />

igualmente num outro sentido, o de conciliação <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

riqueza com as exigências <strong>da</strong> pobreza, pois os ricos — e esse é bem o<br />

ideal <strong>da</strong> assistência entre os discípulos de Turgot — "transformam em<br />

lei o tratamento cui<strong>da</strong>doso, em suas casas, de seus parentes<br />

atacados por <strong>loucura</strong>", e em caso de insucesso "fazem-nos vigiar por<br />

pessoas de confiança". Mas os pobres não têm "nem os recursos<br />

necessários para conter os insensatos, nem a facul<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong>r<br />

deles e tratar dos doentes". Portanto, é preciso estabelecer, a partir<br />

do modelo proposto pela riqueza, um socorro que esteja à disposição<br />

dos pobres — ao mesmo tempo vigilância e cui<strong>da</strong>dos tão diligentes<br />

quanto <strong>na</strong>s famílias, mas completamente gratuitos para os que dele<br />

se beneficiarem; para tanto, Colombier prescreve o estabelecimento<br />

de<br />

um departamento unicamente desti<strong>na</strong>do aos pobres insensatos em ca<strong>da</strong><br />

depósito de mendicância, e que aí se instaure a disposição de tratar<br />

indistintamente todos os gêneros de <strong>loucura</strong>.<br />

To<strong>da</strong>via, o ponto mais decisivo do texto é a procura, ain<strong>da</strong><br />

hesitante, de um equilíbrio entre a exclusão pura e simples dos<br />

loucos e os cui<strong>da</strong>dos médicos que lhes são <strong>da</strong>dos <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que<br />

são considerados como doentes. Prender os loucos é essencialmente<br />

imunizar a socie<strong>da</strong>de contra o perigo que eles representam:<br />

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