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A história da loucura na idade clássica

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colocados em estabelecimentos que lhes eram especialmente<br />

desti<strong>na</strong>dos e dos quais alguns, sobretudo <strong>na</strong> Europa meridio<strong>na</strong>l,<br />

aproximavam-se bastante <strong>da</strong> categoria dos hospitais, o que lhes<br />

permitia que ali fossem tratados pelo menos parcialmente como<br />

doentes. Alguns hospitais irão testemunhar sobre a existência desse<br />

estatuto, através <strong>da</strong> era <strong>clássica</strong> e até a época <strong>da</strong> grande Reforma.<br />

Mas ao redor dessas instituições-testemunhas, o século XVII instaura<br />

uma nova experiência, <strong>na</strong> qual a <strong>loucura</strong> retoma parentescos<br />

desconhecidos com figuras morais e sociais que ain<strong>da</strong> lhe eram<br />

estranhas.<br />

Não se trata aqui de estabelecer uma hierarquia, nem de mostrar<br />

que a era <strong>clássica</strong> foi uma regressão com referência ao século XVI no<br />

conhecimento que teve <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>. Como veremos, os textos médicos<br />

dos séculos XVII e XVIII seriam suficientes para provar o contrário.<br />

Trata-se ape<strong>na</strong>s, isolando as cronologias e as sucessões históricas de<br />

to<strong>da</strong> perspectiva de "progresso", restituindo à <strong>história</strong> <strong>da</strong> experiência<br />

um movimento que <strong>na</strong><strong>da</strong> toma emprestado do conhecimento ou <strong>da</strong><br />

ortogênese do saber — trata-se de deixar aparecer o desenho e as<br />

estruturas dessa experiência <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, tal como o Classicismo<br />

realmente a sentiu. Esta experiência não é nem um progresso, nem<br />

um atraso em relação a alguma outra. Se é possível falar de uma<br />

que<strong>da</strong> do poder de discrimi<strong>na</strong>ção <strong>na</strong> percepção <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, se é<br />

possível dizer que o rosto do insano tende a se apagar, não existe aí<br />

um juízo de valor, nem mesmo o enunciado puramente negativo de<br />

um déficit do conhecimento; é uma maneira, ain<strong>da</strong> de todo exterior,<br />

de abor<strong>da</strong>r uma experiência bastante positiva <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> —<br />

experiência que, retirando do louco a precisão de uma individuali<strong>da</strong>de<br />

e de uma estatura com as quais a Re<strong>na</strong>scença o caracterizara,<br />

engloba-o numa nova experiência e lhe prepara, para além do campo<br />

de nossa experiência habitual, um novo rosto: exatamente aquele em<br />

que a ingenui<strong>da</strong>de de nosso positivismo acredita reconhecer a<br />

<strong>na</strong>tureza de to<strong>da</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

A hospitalização justaposta ao inter<strong>na</strong>mento deve alertar-nos<br />

para o índice cronológico próprio dessas duas formas institucio<strong>na</strong>is e<br />

demonstrar com bastante clareza que o hospital não é a ver<strong>da</strong>de<br />

próxima <strong>da</strong> casa de correição. Nem por isso, no entanto, <strong>na</strong><br />

experiência global do desatino <strong>na</strong> era <strong>clássica</strong>, essas duas estruturas<br />

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