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A história da loucura na idade clássica

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As idéias de socie<strong>da</strong>de, de auxílio público, estão <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza, pois a idéia de<br />

compaixão também é <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza e é esta idéia primitiva que lhe serve de<br />

fun<strong>da</strong>mento 80 .<br />

O dever de assistência está portanto fora <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, uma vez<br />

que já está <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza, mas está <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de porque esta em sua<br />

origem é ape<strong>na</strong>s uma <strong>da</strong>s formas desse dever tão antigo quanto a<br />

coexistência dos homens. To<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> huma<strong>na</strong>, desde os sentimentos<br />

mais imediatos até as formas mais elabora<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, se vê<br />

prisioneira dessa rede de deveres de assistência: "Beneficência<br />

<strong>na</strong>tural", primeiro:<br />

sentimento íntimo que <strong>na</strong>sce conosco, que se desenvolve mais ou menos e<br />

que nos tor<strong>na</strong> sensíveis à miséria bem como às enfermi<strong>da</strong>des de nossos<br />

semelhantes.<br />

A seguir vem a "beneficência pessoal, predileção <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza<br />

que nos leva a fazer o bem particular".<br />

Beneficência <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, fi<strong>na</strong>lmente, sempre conforme aos mesmos princípios de<br />

nossa existência, que encerra um sentimento íntimo, um sentimento ampliado<br />

que leva o corpo <strong>da</strong> <strong>na</strong>ção a reformar os abusos que lhe são denunciados, a<br />

ouvir as queixas que lhe são feitas, a querer o bem que está <strong>na</strong> ordem <strong>da</strong>s<br />

coisas possíveis, a estendê-lo às classes dos indivíduos que se encontram <strong>na</strong><br />

miséria ou são atacados por doenças incuráveis 81 .<br />

A assistência se tor<strong>na</strong> o primeiro dos deveres sociais, dever<br />

incondicio<strong>na</strong>l, pois é a própria condição <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de — o liame entre<br />

os homens, o mais pessoal e ao mesmo tempo o mais universal<br />

deles. Mas o pensamento do século XVIII hesita a respeito <strong>da</strong>s<br />

formas concretas que deve assumir essa assistência. Por "dever<br />

social" deve-se entender a obrigação absoluta para a socie<strong>da</strong>de?<br />

Cabe ao Estado assumir a assistência? É ele que deve construir<br />

hospitais e distribuir aju<strong>da</strong>? A tal respeito, houve to<strong>da</strong> uma polêmica<br />

nos anos que precederam a Revolução. Uns eram adeptos <strong>da</strong><br />

instauração de um controle do Estado sobre todos os<br />

estabelecimentos de assistência, considerando que todo dever social<br />

é, justamente por isso, um dever <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e, fi<strong>na</strong>lmente, do<br />

Estado; projeta-se uma comissão permanente que controlará todos<br />

os hospitais do reino; sonha-se com a construção de grandes<br />

hospitais onde serão tratados todos os pobres doentes 82 . Mas a<br />

80 Idem, ibid.<br />

81 DESMONCEAUX, De la bienfaisance <strong>na</strong>tio<strong>na</strong>le, Paris, 1789, pp. 7-8.<br />

82 Récalde pede a criação de uma comissão «para a reforma geral dos hospitais»;<br />

depois, «uma comissão permanente, revesti<strong>da</strong> <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de do rei, dedica<strong>da</strong><br />

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