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A história da loucura na idade clássica

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caso de uma jovem que se tor<strong>na</strong>ra demente após ter sido mordi<strong>da</strong><br />

por um morcego. Certas doenças incuráveis, como a epilepsia,<br />

produzem exatamente o mesmo efeito. Contudo, mais<br />

freqüentemente deve-se procurar a causa <strong>da</strong> demência no cérebro,<br />

quer por ter sido este alterado acidentalmente por um golpe, quer<br />

por apresentar uma malformação congênita e ter um volume<br />

demasiado pequeno para o bom funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong>s fibras e a boa<br />

circulação dos espíritos. Os próprios espíritos podem ser a origem <strong>da</strong><br />

demência por estarem esgotados, sem forças e lânguidos, ou ain<strong>da</strong><br />

por se terem engrossado, tor<strong>na</strong>ndo-se serosos e viscosos. Contudo, a<br />

causa mais freqüente <strong>da</strong> demência reside no estado <strong>da</strong>s fibras que<br />

não mais são capazes de suportar as impressões e transmiti-las. A<br />

vibração que a sensação deveria provocar não se produz; a fibra<br />

permanece imóvel, sem dúvi<strong>da</strong> por estar demasiado frouxa ou<br />

demasiado estica<strong>da</strong>, tendo-se tor<strong>na</strong>do inteiramente rígi<strong>da</strong>. Em certos<br />

casos, ela não é mais capaz de vibrar em uníssono porque tornou-se<br />

demasiado calosa. Quanto às razões desta incapaci<strong>da</strong>de de vibrar,<br />

estas podem ser tanto as paixões quanto causas i<strong>na</strong>tas ou doenças<br />

de to<strong>da</strong> espécie, afecções vaporosas ou mesmo a velhice. Percorre-se<br />

todo o domínio <strong>da</strong> patologia a fim de se encontrar as causas e uma<br />

explicação para a demência, mas a figura sintomática sempre tar<strong>da</strong> a<br />

aparecer; as observações acumulam-se, as cadeias causais se<br />

esticam, mas é em vão que se procura o perfil próprio <strong>da</strong> doença.<br />

Quando Sauvages se puser a escrever o verbete "Amentia" de<br />

sua Nosologie méthodique, o fio de sua sintomatologia lhe escapará<br />

<strong>da</strong>s mãos e ele não mais poderá ser fiel a esse famoso "espírito dos<br />

botanistas" que deve presidir à sua obra; não sabe distinguir as<br />

formas <strong>da</strong> demência senão a partir de suas causas: amentia senilis,<br />

causa<strong>da</strong> pela "rigidez <strong>da</strong>s fibras que as tor<strong>na</strong> insensíveis às<br />

impressões dos objetos"; amentia serosa, devido a uma acumulação<br />

de serosi<strong>da</strong>de no cérebro, tal como um açougueiro pôde constatar em<br />

bezerros loucos que "não comiam nem bebiam" e cuja substância<br />

cerebral estava "inteiramente converti<strong>da</strong> em água"; amentia a<br />

venenis, provoca<strong>da</strong> sobretudo pelo ópio; amentia a tumore, amentia<br />

microcephalica: o próprio Sauvages viu<br />

esta espécie de demência numa jovem que está no hospital de<br />

Montpellier: chamam-<strong>na</strong> de Macaca, por ter a cabeça demasiado peque<strong>na</strong>,<br />

e por parecer-se com esse animal.<br />

Amentia a siccitate: de modo geral, <strong>na</strong><strong>da</strong> enfraquece mais a<br />

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