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A história da loucura na idade clássica

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econhece, vigia e julga, um novo relacio<strong>na</strong>mento, neutralizado,<br />

aparentemente purificado de to<strong>da</strong> cumplici<strong>da</strong>de, e que pertence à<br />

esfera do olhar objetivo.<br />

3 . Na terceira, o louco se vê confrontado com o criminoso,<br />

porém nem num espaço de confusão, nem sob a espécie <strong>da</strong><br />

irresponsabili<strong>da</strong>de. É uma estrutura que vai permitir à <strong>loucura</strong> habitar<br />

o crime sem reduzi-lo e que ao mesmo tempo autorizará o homem<br />

razoável a julgar e dividir as <strong>loucura</strong>s segundo as novas formas <strong>da</strong><br />

moral.<br />

Por trás <strong>da</strong> crônica <strong>da</strong> legislação cujas etapas esboçamos, são<br />

essas estruturas que se tem de estu<strong>da</strong>r.<br />

Durante muito tempo, o pensamento médico e a prática do<br />

inter<strong>na</strong>mento haviam permanecido estranhos um ao outro. Enquanto<br />

se desenvolvia, segundo suas leis próprias, o conhecimento <strong>da</strong>s<br />

doenças do espírito, uma experiência concreta <strong>da</strong> <strong>loucura</strong> tomava<br />

lugar no mundo clássico — experiência simboliza<strong>da</strong> e fixa<strong>da</strong> pelo<br />

inter<strong>na</strong>mento. Ao fi<strong>na</strong>l do século XVIII, essas duas figuras se<br />

aproximam, com o objetivo de uma primeira convergência. Não se<br />

trata de uma ilumi<strong>na</strong>ção, nem mesmo de uma toma<strong>da</strong> de<br />

consciência, que teria revelado, numa conversão do saber, que os<br />

internos eram doentes; mas sim de um obscuro trabalho no qual se<br />

defrontaram o velho espaço de exclusão, homogêneo, uniforme,<br />

rigorosamente limitado, e esse espaço social <strong>da</strong> assistência que o<br />

século XVIII acabou de fragmentar, de tor<strong>na</strong>r polimorfo,<br />

segmentando-o segundo as formas psicológicas e morais <strong>da</strong> devoção.<br />

Mas esse novo espaço não está a<strong>da</strong>ptado aos problemas próprios<br />

<strong>da</strong> <strong>loucura</strong>. Se se prescrevia aos pobres válidos a obrigação de<br />

trabalhar, se se confiava às famílias o tratamento dos doentes,<br />

estava fora de cogitação deixar que os loucos se misturassem à<br />

socie<strong>da</strong>de. No mínimo se podia tentar mantê-los no espaço familiar,<br />

proibindo aos particulares deixar os loucos perigosos <strong>da</strong> família<br />

circularem livremente. Mas, com isso, a proteção só é feita de um<br />

lado, e de um modo bem frágil. Quanto mais a socie<strong>da</strong>de burguesa se<br />

sente inocente diante <strong>da</strong> miséria, mais ela reconhece sua<br />

responsabili<strong>da</strong>de diante <strong>da</strong> <strong>loucura</strong>, e sente que deve proteger dela o<br />

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