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A história da loucura na idade clássica

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11. A Nova Divisão<br />

No decorrer do século XVIII, alguma coisa mudou <strong>na</strong> <strong>loucura</strong>.<br />

Houve, de início, esse medo que parece ligar o desatino às velhas<br />

obsessões, devolvendo-lhe uma presença que o inter<strong>na</strong>mento havia<br />

conseguido evitar — ou quase. Contudo, não é só isso: lá mesmo<br />

onde a <strong>loucura</strong> havia sido deixa<strong>da</strong> em repouso, no espaço homogêneo<br />

do desatino, realiza-se um lento trabalho, muito obscuro, mal<br />

formulado e do qual se percebem ape<strong>na</strong>s os efeitos superficiais; uma<br />

on<strong>da</strong> profun<strong>da</strong> deixa que a <strong>loucura</strong> reapareça, a qual tende com isso<br />

a isolar-se e a definir-se por si mesma. O novo medo do século XVIII<br />

não se revela uma vã obsessão: a <strong>loucura</strong> está emergindo<br />

novamente, sob a forma de uma presença confusa mas que<br />

questio<strong>na</strong> a abstração do inter<strong>na</strong>mento.<br />

Não se pára de repetir que a <strong>loucura</strong> aumenta. Ë difícil<br />

estabelecer com certeza se o número dos loucos aumentou realmente<br />

no século XVIII, isto é, numa proporção maior que o conjunto <strong>da</strong><br />

população. Este número só se tor<strong>na</strong> perceptível para nós a partir dos<br />

algarismos do inter<strong>na</strong>mento que não são necessariamente<br />

representativos, e isto, Primeiro, porque a motivação do<br />

inter<strong>na</strong>mento freqüentemente permanece obscura, e, segundo,<br />

porque é sempre maior o número <strong>da</strong>queles que se reconhece como<br />

loucos, mas que deixam de ser inter<strong>na</strong>dos. Alguns fatos numéricos,<br />

no entanto, estão acima de dúvi<strong>da</strong>s.<br />

Considerando as coisas de um modo global e comparando os<br />

algarismos do fim do século XVII com os do começo <strong>da</strong> Revolução,<br />

verifica-se um aumento maciço. A Salpêtrière abrigava 3 059 pessoas<br />

em 1690; cem anos mais tarde, há mais do dobro, 6 704, segundo o<br />

recenseamento feito por La Rochefoucauld-Liancourt para o relatório<br />

do Comitê de Mendicância 1 . Em Bicêtre, as proporções são as<br />

mesmas: um pouco menos de 2 000 internos no século XVII e, no<br />

1 LA ROCHEFOUCAULD-LIANCOURT, Relatório para o Comitê de Mendicância, Atas<br />

<strong>da</strong> Assembléia Nacio<strong>na</strong>l, XLIV, p. 85.<br />

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