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A história da loucura na idade clássica

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ilusões delirantes. Pelo contrário, o estudo <strong>da</strong>quilo que há de eterno<br />

<strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza e de mais conforme à sabedoria e à bon<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Providência tem a maior eficácia <strong>na</strong> redução <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des<br />

desmedi<strong>da</strong>s do louco, fazendo com que descubra as formas de sua<br />

responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Os diversos ramos <strong>da</strong>s matemáticas e <strong>da</strong>s ciências <strong>na</strong>turais formam os<br />

assuntos mais úteis nos quais os espíritos dos insensatos podem aplicarse<br />

40 .<br />

No asilo, o trabalho será despojado de todo valor de produção;<br />

só será imposto a título de regra moral pura; limitação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de,<br />

submissão à ordem, engajamento <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de com o fim<br />

único de desalie<strong>na</strong>r o espírito perdido nos excessos de uma liber<strong>da</strong>de<br />

que a coação física só limita aparentemente.<br />

Mais eficaz ain<strong>da</strong> que o trabalho, o olhar dos outros, aquilo que<br />

Tuke chama de "a necessi<strong>da</strong>de de estima":<br />

Esse princípio do espírito humano influencia sem dúvi<strong>da</strong> nenhuma nossa<br />

conduta geral, numa proporção inquietante, ain<strong>da</strong> que freqüentemente de<br />

modo secreto, e atua com uma força especial quando somos introduzidos<br />

num novo círculo de relações 41 .<br />

No inter<strong>na</strong>mento clássico, o louco também estava oferecido ao<br />

olhar: mas esse olhar no fundo não o atingia; atingia ape<strong>na</strong>s sua<br />

superfície monstruosa, sua animali<strong>da</strong>de visível; e comportava pelo<br />

menos uma forma de reciproci<strong>da</strong>de, uma vez que ali o homem são<br />

podia ler, como num espelho, o movimento iminente de sua própria<br />

que<strong>da</strong>. O olhar que Tuke agora instaura como um dos grandes<br />

componentes <strong>da</strong> existência asilar é ao mesmo tempo mais profundo e<br />

menos recíproco. Deve procurar acuar o louco nos signos menos<br />

visíveis de sua <strong>loucura</strong>, ali onde ela se articula secretamente sobre a<br />

razão e mal começa a separar-se dela; e esse olhar não pode ser<br />

devolvido pelo louco, pois ele é ape<strong>na</strong>s olhado; ele é como o recém-<br />

chegado, o último a pôr os pés no mundo <strong>da</strong> razão. Tuke havia<br />

organizado todo um cerimonial ao redor dessas condutas do olhar.<br />

Tratava-se de noita<strong>da</strong>s à mo<strong>da</strong> inglesa, onde todos deviam imitar a<br />

existência social em to<strong>da</strong>s suas exigências formais, sem que <strong>na</strong><strong>da</strong><br />

circulasse além do olhar que observa to<strong>da</strong> incongruência, to<strong>da</strong><br />

desordem, todo engano que traísse a <strong>loucura</strong>. Os diretores e os<br />

40 Idem, p. 183.<br />

41 Idem, p. 157.<br />

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