15.10.2013 Views

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

A história da loucura na idade clássica

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

quero deixar-lhe o privilégio de contrapor a meu livro o fantasma de<br />

um outro, bem próximo dele porém mais belo que ele. Sou o<br />

mo<strong>na</strong>rca <strong>da</strong>s coisas que disse e mantenho sobre elas uma soberania<br />

eminente: a de minha intenção e do sentido que lhes quis atribuir.<br />

Gostaria que um livro, pelo menos <strong>da</strong> parte de quem o escreveu,<br />

<strong>na</strong><strong>da</strong> fosse além <strong>da</strong>s frases de que é feito; que ele não se<br />

desdobrasse nesse primeiro simulacro de si mesmo que é um<br />

prefácio, e que pretende oferecer sua lei a todos que, no futuro,<br />

venham a formar-se a partir dele. Gostaria que esse objeto-evento,<br />

quase imperceptível entre tantos outros, se recopiasse, se<br />

fragmentasse, se repetisse, se simulasse, se desdobrasse,<br />

desaparecesse enfim sem que aquele a quem aconteceu escrevê-lo<br />

pudesse alguma vez reivindicar o direito de ser seu senhor, de impor<br />

o que queria dizer, ou dizer o que o livro devia ser. Em suma,<br />

gostaria que um livro não se atribuísse a si mesmo essa condição de<br />

texto ao qual a pe<strong>da</strong>gogia ou a crítica saberão reduzi-lo, mas que<br />

tivesse a desenvoltura de apresentar-se como discurso:<br />

simultaneamente batalha e arma, conjunturas e vestígios, encontro<br />

irregular e ce<strong>na</strong> repetível.<br />

Ê por isso que, ao pedido que me fizeram de escrever um novo<br />

prefácio para este livro reeditado, só me foi possível responder uma<br />

coisa: suprimamos o antigo prefácio. Honesti<strong>da</strong>de será isso. Não<br />

procuremos nem justificar esse velho livro, nem reinscrevê-lo hoje; a<br />

série dos eventos à qual ele pertence, e que é sua ver<strong>da</strong>deira lei, está<br />

longe de estar concluí<strong>da</strong>. Quanto à novi<strong>da</strong>de, não finjamos descobri-<br />

la nele, como uma reserva secreta, uma riqueza inicialmente<br />

despercebi<strong>da</strong>: ela se fez ape<strong>na</strong>s com as coisas sobre ele ditas, e dos<br />

eventos dos quais se viu prisioneiro.<br />

- Mas você acaba de fazer um prefácio!<br />

- Pelo menos é curto.<br />

Michel Foucault<br />

6

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!