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A história da loucura na idade clássica

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9. Médicos e Doentes<br />

Nos séculos XVII e XVIII, o pensamento e a prática <strong>da</strong> medici<strong>na</strong><br />

não têm a uni<strong>da</strong>de ou pelo menos a coerência que nela agora<br />

conhecemos. O mundo <strong>da</strong> cura se organiza segundo princípios que<br />

são, numa certa medi<strong>da</strong>, particulares, e que a teoria médica, a<br />

análise fisiológica e a própria observação dos sintomas nem sempre<br />

controlam com exatidão. A hospitalização e o inter<strong>na</strong>mento — já<br />

vimos qual era sua independência em relação à medici<strong>na</strong>; mas <strong>na</strong><br />

própria medici<strong>na</strong>, teoria e terapêutica só se comunicam numa<br />

imperfeita reciproci<strong>da</strong>de.<br />

Num certo sentido, o universo terapêutico permanece mais<br />

sólido, mais estável, mais ligado também a suas estruturas, menos<br />

lábil em seus desenvolvimentos, menos livre para uma renovação<br />

radical. E aquilo que a filosofia pôde descobrir de novos horizontes<br />

com Harvey, Descartes e Willis não acarretou, <strong>na</strong>s técnicas <strong>da</strong><br />

medicação, invenções de uma ordem proporcio<strong>na</strong>l.<br />

Em primeiro lugar, o mito <strong>da</strong> pa<strong>na</strong>céia ain<strong>da</strong> não desapareceu<br />

totalmente. No entanto, a idéia <strong>da</strong> universali<strong>da</strong>de nos efeitos de um<br />

remédio começa a mu<strong>da</strong>r de sentido por volta do fim do século XVII.<br />

Na querela do antimônio, afirmava-se (ou negava-se) ain<strong>da</strong> uma<br />

certa virtude que pertencia <strong>na</strong>turalmente a um corpo e que seria<br />

capaz de agir diretamente sobre o mal; <strong>na</strong> pa<strong>na</strong>céia, é a própria<br />

<strong>na</strong>tureza que atua e que apaga tudo aquilo que pertence à<br />

contra<strong>na</strong>tureza. Mas logo se sucedem às discussões sobre o<br />

antimônio as discussões sobre o ópio, utilizado num grande número<br />

de afecções, especialmente <strong>na</strong>s "doenças <strong>da</strong> cabeça". Whytt não<br />

encontra palavras suficientes para celebrar os méritos e a eficácia do<br />

ópio quando utilizado contra os males dos nervos: ele enfraquece "a<br />

facul<strong>da</strong>de de sentir, própria dos nervos" e por conseguinte diminui<br />

"essas dores, esses movimentos irregulares, esses espasmos<br />

ocasio<strong>na</strong>dos por uma irritação extraordinária"; é útil em to<strong>da</strong>s as<br />

agitações, to<strong>da</strong>s as convulsões; é empregado com sucesso contra "a<br />

fraqueza, o cansaço e os bocejos ocasio<strong>na</strong>dos por regras demasiado<br />

abun<strong>da</strong>ntes", bem como <strong>na</strong> "cólica ventosa", <strong>na</strong> obstrução dos<br />

pulmões, <strong>na</strong> pituíta e <strong>na</strong> "asma propriamente espasmódica". Em<br />

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