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Comunicação e Ética: O sistema semiótico de Charles ... - Ubi Thesis

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✐✐✐✐Ética e heteronomia 449teleologia, mas não, ao contrário da medieval, uma teleologia antropomórfica.O progresso e a evolução cósmica passam pelo homem, mas não só por ele,nem este é instância privilegiada do evolutionary love que perpassa todas ascoisas.A minha hipótese é então esta – e não sei se classificá-la <strong>de</strong> pré ou póskantiana– : uma moral só po<strong>de</strong> funcionar se vinculada heteronomamente,integrada num esquema <strong>de</strong> compreensão ontológico e teleológico do mundo,que, aliás, era o que as morais clássicas, e a medieval, via religião, faziam.O problema da moral “heterónoma” (o termo é kantiano, mas aqui não temobviamente o sentido pejorativo que este lhe dá) é qual o padrão para estafuncionar: como aquilatar, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista “exterior” à questão (transcen<strong>de</strong>ntal?)a oportunida<strong>de</strong>, valida<strong>de</strong> e “moralida<strong>de</strong>” da moralida<strong>de</strong> proposta.Bem, talvez isso não seja <strong>de</strong> todo possível. Talvez seja impossível ao homem<strong>de</strong>stacar-se da sua situação existencial concreta, avaliar uma construção feitano seu seio <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista “exterior” a esta – empreendimento utópicopois falamos <strong>de</strong> um lugar que não existe –, e <strong>de</strong>pois retornar calmamente aoseu mundo.Por isso Peirce relega a obtenção do progresso ético não para quando osujeito se adapta a uma consi<strong>de</strong>ração formulada pela razão, mas para quandoverda<strong>de</strong>iramente a<strong>de</strong>re a algo que envolve os seus instintos profundos, <strong>de</strong>senvolvendonovos hábitos <strong>de</strong> sentimento, tal como foram explicitados nasCiências Normativas.Para Peirce a Ética não se ocupa com tópicos externos e impessoais, capazes<strong>de</strong> investigação científica distanciada e <strong>de</strong>sinteressada. Como tem semprea ver com aquilo que somos, não po<strong>de</strong> negligenciar a importância da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>das pessoas envolvidas no discurso. E também não basta fundá-la numacompetência comunicativa universal. A própria linguagem está entretecidacom a auto-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> humana. Não é uma esfera i<strong>de</strong>al do discurso livre <strong>de</strong>qualquer coerção que po<strong>de</strong> fundar a Ética. É necessário aten<strong>de</strong>r ao sentimento.Agora esta posição é muito distinta <strong>de</strong> um suposto irracionalismo, poispela semiótica <strong>de</strong> Peirce não existem intuições puras, todas são mediadas, eo mesmo suce<strong>de</strong> com o instinto e o sentimento. Assim, é possível reconduziro instinto a juízos cognitivos que foram impregnando a personalida<strong>de</strong>,tornando-se verda<strong>de</strong>iros hábitos <strong>de</strong> sentimento que o indivíduo cultivará, <strong>de</strong>modo que mesmo o instinto possui uma base racional que o torna susceptível<strong>de</strong> autocontrole.www.labcom.pt✐✐✐✐

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