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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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104 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

conhecido por mim. Precisamos compreender como a visão<br />

pode fazer-se de alguma parte sem estar encerra<strong>da</strong> em sua<br />

perspectiva.<br />

Ver um objeto é ou possuí-lo à margem do campo visual<br />

e poder fixá-lo, ou então corresponder efetivamente a essa solicitação,<br />

fixando-o. Quando eu o fixo, ancoro-me nele, mas<br />

esta "para<strong>da</strong>" do olhar é apenas uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de seu movimento:<br />

continuo no interior de um objeto a exploração que,<br />

há pouco, sobrevoava-os a todos, com um único movimento<br />

fecho a paisagem e abro o objeto. As duas operações não coincidem<br />

por acaso: não são as contingências de minha organização<br />

corporal, por exemplo a estrutura de minha retina, que<br />

me obrigam a ver obscuramente a circunvizinhança se quero<br />

ver claramente o objeto. Mesmo se eu na<strong>da</strong> soubesse de cones<br />

e de bastonetes, conceberia que é necessário adormecer<br />

a circunvizinhança para ver melhor o objeto, e perder em fundo<br />

o que se ganha em figura, porque olhar o objeto é entranhar-se<br />

nele, e porque os objetos formam um sistema em que<br />

ura não pode se mostrar sem esconder outros. Mais precisamente,<br />

o horizonte interior de um objeto não pode se tornar<br />

objeto sem que os objetos circun<strong>da</strong>ntes se tornem horizonte,<br />

e a visão é um ato com duas faces. Pois não identifico o objeto<br />

detalhado que agora tenho com aquele sobre o qual meu<br />

olhar há pouco deslizava, comparando expressamente estes<br />

detalhes com uma recor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> primeira visão de conjunto.<br />

Quando, em um filme, a câmera se dirige a um objeto e aproxima-se<br />

dele para apresentá-lo a nós em primeiro plano, podemos<br />

muito bem lembrar-nos de que se trata do cinzeiro ou<br />

<strong>da</strong> mão de um personagem, nós não o identificamos efetivamente.<br />

Isso ocorre porque a tela não tem horizontes. Na visão,<br />

ao contrário, apoio meu olhar em um fragmento <strong>da</strong> paisagem,<br />

ele se anima e se desdobra, os outros objetos recuam<br />

para a margem e adormecem, mas não deixam de estar ali.<br />

Ora, com eles, tenho à minha disposição os seus horizontes,

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